Não existe nada mais fútil e redutor do que listas de “mais belos”. Não importa se é lista de mulheres mais belas, homens mais belos, atletas mais belos ou smurfs mais belos. Por isso, não adianta disfarçar e incluir nomes por fama, protagonismo, idade, razões étnicas ou geográficas. O estrago já está feito, se você se propôs a fazer ou ler uma lista de “mais belos” automaticamente se torna fútil e redutor. Salvo se for um patrulheiro que já começa indignado, lendo ao mesmo tempo em que grita “Mas o que é isso? Mas o que é isso? Mas o que é isso?”, aí você é só um chato politicamente correto mesmo.
Essa lista de musas do cinema não tem espaço para obviedades. De cara aviso que megaestrelas pop não tem lugar garantido. As montadas Marylin Monroe, Kim Novak e Rita Hayworth estão fora. Pretensas obviedades como Elizabeth Taylor e Brigitte Bardot também. Sophia Loren perdeu o lugar por um nariz de distância. A gracinha Audrey Hepburn saiu por não ter peso suficiente para doar sangue. Halle Berry, Michelle Yeoh e Kim Basinger são lindas, mas só possuem lugar garantido no top dez de “Bond Girls”. A exclusão de Grace Kelly é a que mais lamento. Ela é, literalmente, uma princesa, mas esse é justamente o problema, é quase uma princesa Disney. Verdadeiramente bela, recatada e do reino. Grace Kelly é como a bailarina de Chico Buarque: “não tem verruga, nem frieira, nem falta de maneira ela não tem”. Falta “balacobaco, ziriguidum, telecoteco” para ser inclusa em uma lista que não leva em conta o peso histórico da figura.
Brasileiras vips como Vera Fischer, Sheron Menezzes e Gisele Bündchen foram consideradas, mas acabaram em menção honrosa. A vice-miss universo de 1954, Martha Rocha, que apareceu em muitos cinejornais, mais uma vez ficou de fora por duas polegadas a mais. Por outro lado, a vice-miss universo 2007, Natália Guimarães, entraria se tivesse feito algum filme e não tivesse se casado com um KLB.
Só posso lamentar que não houve espaço para divas imortais como Catherine Deneuve, Sharon Stone, Isabelle Adjani, Catherine Zeta-Jones, as coadjuvantes de “Mad Max 2”, Bibi Andersson, Louise Brooks, Débora Nascimento, Marina Vlady e Ruth Romcy. De resto, só reafirmo que esse é uma lista (quase) totalmente pessoal. Se não gostou, faça a sua e seja também fútil e redutor.
A equação é simples: a super-heroína Mulher-Maravilha é a mulher mais deslumbrante de todos os tempos. Mônica Bellucci sempre foi a interprete perfeita para Mulher-Maravilha, superando a pioneira Linda Carter e colocando no bolso a gatinha manhosa Gal Gadot. Infelizmente, o tempo conspirou contra a diva italiana. Tempo, velocidade, volume, noves fora e, conclusão, Mônica Bellucci é a primeira da lista.
Auge: O Pacto dos Lobos (2001)
Quem mais poderia regenerar o sedutor profissional visconde de Valmont no clássico “Ligações Perigosas”? Quem mais poderia fazer o Diabo em pessoa de bobo em “As Bruxas de Eastwick”? Quem mais poderia seduzir Bruce Wayne durante o dia e Batman durante a noite? Miau! A resposta é Michelle Pfeiffer.
Auge: O Feitiço de Áquila (1985)
Charlize Theron é a Grace Kelly com tempero. Grace é bela e glacial. Charlize é bela e vulcânica. Provou ser ótima atriz em “Monster”, pelo qual ganhou o Oscar. Tirou o protagonismo do personagem título da obra-prima “Mad Max — Estrada da Fúria”, fazendo do filme um libelo pós-feminista e um show particular de sua Imperatriz Furiosa. Mesmo de cabelos raspados, maneta e coberta de pó, consegue ser deslumbrante e poderosa. O que prova que depois do apocalipse só vão sobreviver as baratas e a beleza de Charlize Theron.
Auge: O Advogado do Diabo (1997)
Foi chamada pelo poeta e cineasta francês Jean Cocteau de “o mais belo animal do mundo”. Calma, calma, patrulheiros, a frase foi dita em um contexto elogioso por um artista sofisticado e assumidamente homossexual, nada tem de patriarcal e opressiva. Aliás, Ava Gardner não foi nada submissa. Fez uma multidão de homens de bobo, com destaque para Frank Sinatra, que tentou o suicídio quando foi abandonado por ela. Entre as estrelas da Hollywood clássica, Ava Gardner é a que possui a beleza mais moderna e, ao mesmo tempo, atemporal. Não parece uma boneca montada, cheia de laquê nos cabelos e pó de arroz no rosto. Ava foi e é uma mulher de verdade, capaz de derreter com um único olhar as neves do Kilimanjaro.
Auge: A Condessa Descalça (1954)
O encantamento provocado pela visão da personagem burguesa nova rica de Claudia Cardinale em “O Leopardo”, do mestre Luchino Visconti, fez com que o príncipe interpretado por Burt Lancaster concluísse que o tempo da aristocracia havia acabado. Esse é o tipo de marco histórico que pode representar a beleza de Claudia Cardinale. Ela e Alan Delon formaram o casal mais bonito da história do cinema.
Auge: Era Uma Vez no Oeste (1968)
Aposto que os patrulheiros de plantão vão criticar o fato de que escolhi incluir justamente uma brasileira sem cara de brasileira. Fico me perguntando o que é “cara de brasileira”? Em todo caso, tenho uma novidade para eles: Ana Paula Arósio é brasileira. E, mais do que isso, é a Maria Eduarda portuguesa perfeita na série televisiva “Os Maias” e uma deslumbrante Lady Macbeth à brasileira no filme “A Floresta que se Move”.
Auge: O Coronel e o Lobisomem (2005)
Ok, admito. Não é a Salma Hayek pessoa física que estou incluindo, mas a “Santanico Pandemonium” pessoa jurídica. Alguns minutos na tela podem definir uma carreira e promover uma atriz a imortalidade. Esqueçam Rita Hayworth em “Gilda” ou Jennifer Beals em “Flashdance”, o mais sensual solo de dança feminina da história do cinema está, pasmem cinéfilos cult, em “Um Drink no Inferno”. Se isso não basta, Salma Hayek provou que é impossível para uma diva interpretar Frida Kahlo de maneira convincente. Duvidam? Perguntem ao pó.
Auge: Um Drink no Inferno (1996)
Esta não é uma lista de divas do cinema? Então, o que está fazendo aqui uma atriz de televisão e rainha de bateria? Gostaria de lembrá-los que a beleza da diva Cris Vianna foi uma das poucas coisas que se salvou no filme “Besouro”, de 2009, um dos maiores desperdícios de uma boa ideia do cinema brasileiro de todos os tempos. É a história de um capoeirista lendário e Cris Vianna faz uma ponta, mas está tão à frente de tudo que deixa a produção inteira comendo poeira.
Auge: Hoje, agora, nesse instante.
“Blasfêmia, uma atriz pornográfica na lista”, gritarão os mais pudicos e preconceituosos. Sim, Silvia é bela, mas não é recatada nem do lar, tentem conviver com isso. E o mais importante: levem em consideração que ela realiza suas proezas eróticas na tela sem jamais perder a ternura e a elegância. Poderia ganhar uma medalha olímpica, mas ganha um lugar no panteão. Se nada disso te convenceu, leia esses trechos do poema que Alexei Bueno fez em sua homenagem: “Deusa, deusa mil vezes, Deusa de uma e mil faces, das rameiras rapaces, das cortesãs soezes… Jamais, Deusa, não traias, teus pobres fiéis que babam, que em êxtases se acabam, por ti, pelas tuas aias. Louro véu do universo, sacra estátua e cadela, pisa esta alma que vela, teu sonho áureo e perverso”. Superem isso, haters!
Auge: Obras completas (algum momento entre o final do século 20 e o começo do século 21)
Para o genial escritor Marcel Proust, autor de “Em Busca do Tempo Perdido”, a personagem Odette de Crécy representa a beleza perfeita, desconcertante e duradoura, só comparável com uma obra de arte. A italiana Ornella Muti interpretou Odette no filme “Um Amor de Swann”, de 1984. Sua escolha para o papel, sobretudo por não ser francesa, se impôs. Basta lembrar que Catherine Deneuve, a quintessência da elegância francesa, assumiu a personagem na maturidade em “O Tempo Redescoberto”, de 1999. Isso sim é uma troca de bastão!
Auge: Crônica de um Amor Louco (1981)