A história da arte está intrinsecamente ligada à representação do corpo feminino. Ao longo dos séculos, as formas das mulheres foram capturadas em pinceladas, esculturas e até mesmo fotografias, cada uma refletindo o olhar e a perspectiva do seu respectivo período. A nudez feminina, em particular, tem sido objeto de fascínio, controvérsia, estigmatização e admiração. O crítico de arte Johathan Jones, em uma lista publicada no jornal britânico “The Guardian”, mergulhou nesse universo para destacar as dez obras mais impactantes de nudez feminina na história da arte. A seleção abrange desde pinturas clássicas, como a “Vênus de Urbino” (1538) de Ticiano, até expressões mais contemporâneas, como o retrato da estilista Vivienne Westwood (2013) por Juergen Teller. A lista também conta com a famosa “Louise O’Murphy” (1752) de François Boucher, uma representação provocativa da amante adolescente do Rei Luís XV da França.
Ticiano, um pintor italiano do Renascimento, é amplamente reconhecido por suas evocativas representações de nus femininos. “Vênus de Urbino”, uma de suas obras mais famosas, retrata uma jovem nua, languidamente deitada em uma cama suntuosa, com os olhos fixos no espectador. A pose da figura feminina é influenciada pela “Vênus Adormecida” (1510) de Giorgione e mais tarde serviria de inspiração para “Olympia” de Édouard Manet.
Este retrato contemporâneo de Juergen Teller é uma homenagem nua e sem retoques à renomada estilista britânica Vivienne Westwood, a mente criativa por trás da moda punk e new wave. Westwood é retratada nua, deitada em um sofá, com o cenário em harmonia com o vermelho vivo de seus cabelos. Surpreendentemente, Westwood posou para esta pintura quando estava perto dos 70 anos.
Esta pintura sensual de François Boucher retrata Louise O’Murphy, a jovem amante do Rei Luís XV da França. O quadro exala erotismo, com a adolescente nua deitada languidamente em lençóis desarrumados. Acredita-se que o retrato tenha despertado o interesse do rei, levando ao subsequente relacionamento entre os dois.
“A Grande Odalisca” de Ingres é uma obra-prima do erotismo e uma extravagância orientalista. Uma mulher nua, adornada com um turbante e segurando um leque de penas de pavão, repousa em lençóis de seda, apresentando uma curva quase surrealista. Seus olhos inquisidores, que parecem desafiar o espectador, são uma característica notável desta pintura.
Em resposta à constante objetificação do corpo feminino na arte, as Guerrilla Girls — um coletivo feminista de artistas ativistas — criaram uma obra provocativa intitulada “Do women have to be naked to get into the Met Museum?” (As mulheres têm de estar nuas para entrar no Museu Met?). Nela, a “Grande Odalisca” de Ingres é reinterpretada com uma cabeça de gorila e ao lado da imagem, a estatística alarmante de que menos de 5% das obras expostas no museu são de mulheres, enquanto 85% dos nus são femininos.
A fascinação de Pablo Picasso pelo corpo feminino é bem documentada em suas obras. “Nu, Folhas e Busto” é uma representação impressionante de um corpo feminino nu, rodeado de folhas verdes e um busto. A obra alcançou um marco ao se tornar uma das pinturas mais caras já vendidas em um leilão, arrecadando 106,4 milhões de dólares.
Na série fotográfica “SOS Starification Object Series”, Hannah Wilke usou seu próprio corpo para questionar e criticar a constante objetificação do corpo feminino na arte. As imagens apresentam o corpo feminino marcado por objetos, numa alegoria ao peso e ao desconforto do olhar público sobre a mulher nua. O trabalho de Wilke serve como um lembrete poderoso da “dor de ser vista”.
A escultura de mármore “Vênus Capitolina” — cujo autor permanece desconhecido — é uma representação elegante da deusa Vênus surgindo do banho. Medindo quase dois metros de altura, a Vênus se cobre de forma modesta, numa pose rara entre as esculturas de nus femininos. Embora a data de sua criação seja incerta, acredita-se que a escultura remonte ao século 4 a.C.
Um dos mais famosos quadros renascentistas, “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticelli retrata a deusa Vênus emergindo do mar numa concha gigante, conforme a mitologia romana. A obra é tão icônica que até mesmo foi representada em moedas europeias.
Em “Vênus ao Espelho”, Diego Velázquez retrata a deusa do amor deitada numa cama, observando sua própria imagem num espelho que é segurado por Cupido. A obra, única sobrevivente dos nus de Velázquez, foi atacada por uma sufragista, que danificou a pintura ao cortá-la repetidamente. Mesmo com os danos, a pintura continua a ser uma expressão profunda e significativa do corpo feminino na arte.