As 7 melhores séries de 2025, até agora Divulgação / Netflix

As 7 melhores séries de 2025, até agora

Lutando contra seus impulsos, tentando dominar suas fraquezas, vulnerável aos movimentos que não pode entender, justamente aqueles que definem os rumos de como será sua vida frente às incessantes mudanças do mundo que o rodeia, o homem enfrenta seus íntimos pesares como consegue, lida com suas inadequações mais flagrantes enquanto devota-se a sufocar aquilo que sabe que nunca há de lhe dar sossego, que arruína silenciosamente seu espírito, que aflora-lhe à pele e revela o monstro que esconde. Sozinho, do berço ao túmulo, sujeito à vasta gama de intempéries que ameaçam-no com uma violência que nem sempre é capaz de suportar, o gênero humano se livra por um triz de algumas trapaças do destino, permitindo-se gostosamente enredar nas teias do imponderável, depois de haver vislumbrado todas as chances de escapar do abismo e ter preferido lançar-se com tudo em suas profundezas.

Como se incompatível ao estar do homem no mundo, a própria felicidade se nos apresenta como um dos tantos perigos da vida. Presa dos mecanismos de repressão e autocensura dos quais nunca consegue se livrar; tentando contornar a dureza do real valendo-se do poder salvífico e intangível da fé; colocando à prova seus limites e seu empenho em tornar reais as mudanças, óbvias ou profundas, de que considera-se merecedor; sempre flertando com a tragédia, à espreita, calada e sedutora, nas curvas mais sinuados do caminho; equilibrando-se sobre o delicado fio que aparta o caos do inferno. A indústria cultural descobriu nas séries um filão tão prolífico quanto convincente de chegar a públicos os mais diversos, esmiuçando temas sensíveis como a inteligência artificial, a biografia de personagens da História e, evidentemente, as artimanhas dos assassinos seriais e psicopatas em sentido amplo.

“Cassandra”, uma joia em seis episódios da novíssima produção audiovisual da Alemanha, mostra quão perigosas podem ser as demandas que o homem inventa, encarnadas por uma assistente virtual inativa há meio século que torna à vida com o propósito de acertar as contas com a humanidade. Por seu turno, “Maria e o Cangaço” repassa a trajetória de Maria Gomes de Oliveira (1911-1938), a Maria de Déa ou Maria Bonita, como é conhecida até hoje, figura central no noticiário dos anos 1930, capaz de provocar estranhamento e admiração. Já na aclamada “You”, os showrunners Greg Berlanti e Sera Gamble concentram-se em Joe Goldberg, um vendedor de livros que perscruta a vida de seus clientes a partir de suas preferências literárias, mas não só. Juntam-se a elas outras quatro produções, da Netflix e da Disney+, arroladas em ordem alfabética, cada qual firme em sua meta de comprovar o poder das tramas fragmentadas, plurais e incômodas como o próprio gênero humano.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.