Os 5 filmes mais superestimado do cinema recente Divulgação / FilmNation Entertainment

Os 5 filmes mais superestimado do cinema recente

Muito já se disse e se escreveu a respeito da famigerada “função da arte”. Há quem diga que a função da arte é educar, preparar o homem para o futuro, instigar no homem uma consciência de fazer parte de um todo, de um organismo maior que seu próprio corpo, que sua própria família, seu próprio círculo de amigos, sua cidade, seu país, quem sabe esperando que deixe de caber no próprio planeta. Por outro lado, muitos defendem que a função única da arte é precisamente essa, ser arte. A arte pela arte é arte ao quadrado e, em muitos casos, é muito mais producente quanto a fazer girar a roda da evolução. A vida é um mar proceloso que se atravessa a bordo de uma nau sem casco e é a arte quem pincela com um pouco de beleza essa travessia.

 A jornada do homem sobre a Terra é plena de surpresas, eventos inesperados que o colhem, trazendo em seu bojo ora prazer, ora situações infaustas, e mesmo sabendo de tudo isso, a gente não deixa nunca de esperar pelos inesperados da vida, ansiando, por óbvio, que nos sejam doces. A sensação de, assim, por acaso, encontrar um filme no qual jamais tínhamos reparado antes, gostar do leiaute da capa, a partir dele escarafunchar a ficha técnica, saber o nome daqueles atores dos quais você não ouvira falar até então, assistir, gostar, ou mesmo, achar uma porcaria, não tem o condão de que qualquer um se sinta um pouco menos ignorante, um bocadinho menos perdido no mundo? As novas — e sempre úteis — descobertas, e o gosto por fazê-las: eis o sal da vida! Mas e quando nossas expectativas escoam pelo ralo?

Como toda arte, o cinema também é feito de controvérsias. A vida seria uma inútil maravilha se, de tempos em tempos, não tivéssemos um rasgo de incerteza quanto às incontáveis questões que fustigam o gênero humano. Sonhos são a matéria-prima de filmes de categorias as mais diversas, e que grande revolução haveria de se dar nos povos do mundo inteiro se cada um tivesse sonhos grandiosos o bastante para serem perseguidos sem folga, até que, por fim, saíssem do baço plano das ideias e passassem à vida como ela é, o que, por óbvio, só seria possível se fôssemos dignos deles. Sendo assim, é árduo e mesmo martirizador tachar de “sobrestimado”, ou pretensioso, pedante, pleno de insuportáveis afetações e mesmo desonesto, ao valer-se de campanhas de divulgação massivas e vultosas para chegar aonde querem — o palco do Teatro Dolby, muitas vezes. De alguma maneira, os cinco filmes expostos na relação abaixo padecem de um ou outro desses defeitos, embora tenham sido gozado de sucesso junto ao público e reconhecimento de críticos famosos. 

Sem dúvida, o caso mais emblemático dos últimos tempos é “Anora” (2024), o furacão de Sean Baker, sobre uma jovem stripper (e garota de programa) russo-americana que vive um efêmero conto de fadas ao tornar-se a obsessão do filho pródigo de um oligarca russo. Baker fora muito feliz ao deslindar uma face da indústria do entretenimento adulto no ótimo “Red Rocket” (2021), mas sua nova empreitada tem o sabor rançoso de um pastiche barato, que a beleza e o talento da atriz principal adoçam.

Retrocedendo mais de um quarto de século, chegamos a “Clube da Luta” (1999), de David Fincher, diretor também do bem-sacado “O Assassino” (2023) e do quase perfeito “Garota Exemplar” (2014). Hoje tido por cult, “Clube da Luta” teve aceitação módica por parte do espectador, o que atesta que não há regra quando se trata de mensurar o que a indústria cultural leva à praça. Situamos os longas avaliados em ordem cronológica, do mais recente para o de lançamento mais antigo, sublinhando que ninguém é o dono da verdade e a discussão de novos pontos de vista é sempre benfazeja. Veja-os (ou reveja-os) e diga-nos o que achou.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.