Depois de sete longos anos, Gareth Evans volta a mergulhar no universo das gangues em “Caos e Destruição”, título bastante apropriado para seu novo filme, todo permeado pela violência que já tornou-se uma sua marca. Ao longo de 107 minutos, o texto de Evans descortina figuras encarceradas em perturbações diversas, sem prejuízo do comentário social acerca das relações promíscuas entre o Estado e o crime. Admiravelmente, esse dom para vislumbrar possíveis laços sinistros envolvendo criminosos e quem teria a obrigação de zelar pela higidez da coisa pública ganha forma por meio de tipos humanos prosaicos, mas que vão adquirindo vulto conforme o enredo mostra que não tem intenção alguma de obedecer à vontade do espectador e sempre encontra um jeito de surpreendê-lo. Aqui, o diretor-roteirista fala de um detetive maldito e um tanto angustiado pela urgência de esquecer o que foi, um protagonista à altura das aflições que ele mesmo não oculta, demônios contra os quais investe como melhor sabe.
Ninguém hesitaria em voltar ao passado para evitar um acontecimento que poderia mudar radicalmente seu futuro, mas depois de deixar de lado a emoção e se ater somente à lógica, mesmo o mais tolo dos homens chegará à conclusão de que o tempo é de fato o senhor da vida, não se submete a nenhum querer, por mais bem-intencionado que pareça, e não se conformar com isso é o caminho mais curto para a catástrofe. Tentando despistar seus sentimentos, o homem cria armadilhas que o aprisionam nos labirintos de sua própria memória.
Tempo e espaço são conceitos ilusórios, meramente ilustrativos, para que tenhamos alguma noção do que já aconteceu, do quanto falta para atingirmos determinado ponto do que se convencionou qualificar como futuro e onde estamos agora, entre um e outro extremo. Walker é um perdido na noite suja de uma metrópole sem nome. Ele ainda sofre com as lembranças do crime que cometera dezoito meses atrás, quando descartara no rio um cadáver dentro de tambor de óleo, e agora, como sói acontecer, a vida vem cobrar-lhe a fatura, pelas mãos pesadas de Lawrence Beaumont, o candidato a prefeito cujo filho, Charlie, lidera uma gangue contratada para roubar uma tonelada de cocaína.
“Caos e Destruição” começa a ganhar ritmo esmiuçando o que pode haver de ainda mais podre na relação entre Walker e Lawrence, mistério que Evans tem o condão de esticar o quanto pode, ao passo que preenche vácuos narrativos com massacres a exemplo do que quase vitima Charlie, interpretado por Justin Cornwell numa mistura de cinismo e angústia, e Mia, a anti-heroína fatal de Quelin Sepúlveda. Quando tudo já está devidamente preparado, Tom Hardy e Forest Whitaker entram em cena, sem tanto espalhafato, mas fiéis à ideia inicial, de contar uma história sobre mudança de vida e o caráter sobrepujando mesmo as condições mais adversas — depois que se suporta uma dose generosa de barbárie.
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