Houve um tempo em que abrir o Discover era quase como topar com uma boa conversa no café.
Sem procurar muito, sem esperar demais, a gente se deparava com textos interessantes, histórias que tocavam algum fio esquecido lá dentro. Era simples. E, de alguma forma, parecia certo.
Só que — é, só que — isso ficou para trás.
Ninguém sabe exatamente quando começou. Talvez tenha sido uma mudança sutil, na calada dos algoritmos. Ou talvez, como tudo que apodrece devagar, o colapso tenha sido tão gradual que só percebemos quando já era tarde demais.
Fato é: de uma hora para outra, o tráfego desabou.
Milhões de sites viram seus acessos evaporarem como névoa ao sol. Portais grandes, blogs de nicho, jornalistas independentes — todos pegos de surpresa, sem mapa, sem aviso.
O que o Google disse?
Pouco, quase nada. Uma atualização para “melhorar a experiência dos usuários”. Um ajuste para “valorizar conteúdo original e de alta qualidade”.
Frases impecavelmente redondas — e perigosamente vazias.
Porque o que brotou dessas mudanças tem pouco a ver com qualidade.
Hoje, quem se arrisca pelo Discover encontra uma paisagem desoladora: listas sem pé nem cabeça, manchetes mendigando cliques, páginas maliciosas que prometem o mundo — e entregam vírus, pop-ups, armadilhas.
“É como se o Google tivesse aberto as portas da frente e convidado o lixo para sentar na sala”, resume Marcela Costa, administradora de um site independente que perdeu 70% do seu tráfego em questão de dias. “A gente batalhou anos pra construir credibilidade, pra ser trocado por geradores automáticos de spam.”
É brutal.
É revoltante.
E, talvez, seja inevitável.
Afinal, entre as promessas e a realidade, parece haver um abismo que o Google não se dispõe — ou não consegue — atravessar.
Alguns tentam se adaptar. Reformulam textos, reescrevem manchetes, suplicam relevância a um sistema que já não responde mais como antes. Outros simplesmente desistem. Porque como competir, afinal, com um mar de iscas brilhantes empurradas aos montes para olhos fatigados?
A sensação, para quem observa, é amarga: O Discover, que já foi um jardim de boas surpresas, hoje mais parece um lixão informatizado.
E a cada rolagem de tela, a cada nova promessa vazia, a pergunta cresce como uma pedra na garganta:
Se nem o Google consegue proteger o que importa… quem poderá?