Você pode pensar que já viu de tudo nessa vida, mas alguns documentários da Netflix chegam para provar que a realidade pode ser muito mais esquisita que a ficção. É o caso de “Mãe Golpista”, filme de Nick Green que aborda muito mais que um drama familiar. Essa história envolve crime e mistério.
A história gira em torno do chef confeiteiro Graham Horningold, que já até participou de realities famosos na Inglaterra e cozinha em restaurantes com estrela Michelin, e que foi criado por seu pai após ser abandonado na infância pela mãe. Apesar da carreira bem-sucedida e da família que crescia — Graham e a esposa à época, Heather, esperavam um filho —, ele ainda sonhava em conhecer a mãe, uma mulher cuja identidade nunca havia sido revelada pelo pai.
O vazio perpassou toda a sua infância e adolescência, tornando a busca implacável pela mulher que lhe deu à luz um objetivo inescapável. Até que uma guinada no destino lhe trouxe uma grata surpresa: uma mulher o telefonou revelando que acreditava ser sua mãe. Hanna, uma idosa de 84 anos, parecia tão frágil e ingênua quanto a idade pode lhe fazer parecer. Ao se reconectar com Graham, o tempo perdido pareceu urgir como um vento feroz, fazendo com que a companhia de sua mãe se tornasse insaciável.
No entanto, Hanna trouxe péssimas notícias: ela tinha um câncer terminal e seu tempo de vida era bastante limitado. Ela deveria morrer em, no máximo, um ano. O sonho de Graham desabou como um castelo de areia ao saber que a mãe que tanto desejava ao seu lado agora estava de partida. A iminente despedida tornava tudo ainda mais urgente e intenso. Cada minuto ao lado dela diminuía um grão de areia na ampulheta da vida, que agora estava no final.
Mas, junto com a companhia doce e calorosa de Hanna, vieram novidades que poderiam transformar a vida de Graham para sempre. Hanna afirmava ser filha ilegítima do príncipe de Brunei e uma mulher bilionária, com inúmeros negócios lucrativos ao redor do mundo. Embora a história parecesse exagerada, havia fatores que comprovavam sua versão dos fatos: Hanna estava sempre gastando dinheiro com roupas de grife, hotéis caríssimos e restaurantes finos. Se ela não tivesse todo o dinheiro que dizia ter, como esbanjaria tanto? Além disso, ela parecia ser bastante conhecida nesse círculo elitizado.
Hanna se mudou para a casa do filho para que pudessem aproveitar o pouco tempo que lhes restava juntos. Deu-lhe um carro de luxo para provar que realmente estava compensando pelo tempo perdido. O filho de Graham e Heather nasceu e, juntando tudo isso, a relação entre sogra e nora começou a ficar difícil. Hanna acreditava que Heather não lhe dava espaço suficiente para aproveitar seus últimos dias com o filho. Então, Hanna convocou Graham para uma viagem à Suíça, onde poderia passar suas empresas para o nome do filho e resolver a questão da suposta herança bilionária. Graham ficou encantado. Não apenas conhecera sua mãe como se tornaria um bilionário. Sua vida estava de cabeça para baixo.
Na Suíça, no entanto, a pandemia aconteceu, e Hanna começou a inventar desculpas para pedir empréstimos ao próprio filho, usando o caos global como justificativa para seu dinheiro estar preso nos bancos. A viagem, que seria breve, estendeu-se por um mês, depois mais um mês e outro mês… Enquanto Heather cuidava sozinha do filho recém-nascido em casa, Graham e Hanna esbanjavam com as economias da família. Outras vítimas de Hanna apareceram dando depoimentos e contando sobre seu jeito carismático e frágil, que as conquistou e convenceu a dar-lhe seu dinheiro.
O caso só poderia terminar de uma forma: com Hanna destruindo completamente a vida de Graham. Mas a principal dúvida permanecia até os últimos segundos: Hanna era mesmo mãe de Graham? Ela tinha mesmo câncer terminal? Era mesmo herdeira da família real de Brunei?
“Mãe Golpista” é um exercício de autocontrole. O espectador quer gritar, espernear, brigar com Graham por ser tão ingênuo e influenciável, mas a questão é mais profunda, envolve traumas de abandono, solidão e autoestima. Graham é uma vítima da, provavelmente, golpista mais velha do mundo e com a carreira mais longa. O documentário é um estudo de uma relação doentia e narcisista.
★★★★★★★★★★