A cerimônia do Oscar é tipo aquele primo que só come a cobertura do bolo na festa e ainda leva o resto pra casa. Ano após ano, filmes brilhantes são ignorados como se fossem panfletos de imobiliária na rua — ninguém dá bola. Às vezes, o gosto da Academia é tão duvidoso que parece escolha de playlist feita por professor de academia. Enquanto algumas obras-primas amargam o esquecimento, produções mambembes ganham estatueta só por contarem a história sofrida de vida de alguém que ninguém conhece.
Pior que ser ignorado pelo crush é ser ignorado pela Academia. Tem filme que inventou linguagem, revolucionou o cinema, quebrou paradigmas e foi recebido com um “ah, legalzinho” pelos votantes (HELOU, “CIDADE DE DEUS”!). É tipo aquele aluno gênio que responde certo até as questões da prova que o professor não fez. Só que, em vez de ganhar parabéns, escuta um “você podia ter caprichado mais na letra”. Hollywood tem dessas injustiças que fariam até o Chaplin chorar em preto e branco.
Então bora lavar essa alma com ranço e listar cinco filmes geniais que foram solenemente esnobados no Oscar. Aqui não tem espaço pra diplomacia: a ideia é dar voz a quem foi calado pela plateia de veludo. Se você também já gritou “ROUBO!” em alguma premiação, esta lista é pra você. E se nunca sentiu essa indignação, é porque provavelmente vota na Academia. A seguir, cinco produções que mereciam uma estatueta — ou no mínimo um pedido formal de desculpas em rede nacional.

Um insone entediado e um vendedor de sabão montam um clube secreto onde homens se socam até encontrar sentido na vida. Com crítica afiada ao consumismo, estética subversiva e reviravolta icônica, o filme foi ignorado em categorias principais. Indicado apenas a Efeitos Sonoros, perdeu. Hoje é cultuado como um manifesto geracional, mas à época foi tratado como briga de bar em slow motion. A ironia? O filme é sobre quebrar regras — inclusive as do Oscar.

Baseado em livro de Stephen King, o terror psicológico que se passa num hotel isolado virou referência estética e narrativa. Jack Nicholson entrega uma das atuações mais marcantes do cinema, mas a Academia fez cara de paisagem. Nenhuma indicação ao Oscar. Nem fotografia. Nem ator. Nem direção. A ausência de prêmios só reforça o absurdo da omissão, dado o impacto cultural e a influência que o filme exerce até hoje, dentro e fora do gênero.

Travis Bickle é o anti-herói definitivo: um ex-fuzileiro desajustado que vaga pelas noites sujas de Nova York, planejando salvar uma jovem prostituta. Com roteiro ácido e uma direção hipnótica, o filme oferece uma crítica brutal à alienação urbana. Indicado a quatro Oscars, incluindo Filme e Ator, não levou nenhum. A perda mais gritante talvez seja a de Scorsese, que só viria a ganhar décadas depois, como se fosse prêmio de consolação por uma vida de esnobadas.

Um fotógrafo com a perna engessada começa a bisbilhotar os vizinhos pela janela e acha que testemunhou um assassinato. Suspense construído com maestria em um único cenário, atuações sólidas e uma aula de montagem. Foi indicado em quatro categorias técnicas, mas saiu de mãos abanando. Hitchcock, que revolucionou o gênero e formou gerações de cineastas, nunca venceu um Oscar competitivo. A Academia olhou pela janela e fingiu não ver nada.

Um entrelaçado de histórias absurdas, diálogos afiados e violência estilizada como arte. Tarantino moldou o cinema dos anos 90 com essa mistura de trash e genialidade pop. Ganhou o Oscar de Roteiro Original, mas perdeu nas demais categorias principais, inclusive Filme e Diretor. Diante da importância histórica da produção, o saldo parece tímido. O filme redefiniu linguagem e ritmo, mas foi tratado como modinha passageira. Spoiler: não passou.