Antes mesmo que se comece a assistir a “Explosão no Trem-Bala”, a primeira imagem que vem à cabeça, e com justiça, é “Velocidade Máxima” (1994). O thriller de Jan de Bont, ambientado num ônibus dadas as condições da malha ferroviária dos Estados Unidos, e protagonizado por Keanu Reeves e Sandra Bullock, venceu os Oscars de Melhor Mixagem e Edição de Som na 67ª cerimônia de premiação da Academia, mas duas décadas antes houve uma produção nipônica que fez a terra tremer.
“The Bullet Train” (1975), de Junya Sato (1932-2019), é a verdadeira inspiração para o filme de Shinji Higuchi e um remake que prima pela fidelidade à história original, sem deixar de fazer as atualizações necessárias. O roteiro de Kazuhiro Nakagawa e Norichika Ōba tira do longa de há meio século o espírito de genuína temperança do cidadão japonês, que mesmo em circunstâncias como essa é capaz de manter a serenidade para tomar a decisão mais prudente e tentar uma saída. Demora, mas o caos, também lá, se instala, como se vê no momento em que as autoridades compreendem que esta é uma questão de segurança nacional.
No Japão, dezesseis milhões deslocam-se de trem todos os dias. Por algum tempo, essas pessoas partilham do mesmo destino, e elas sabem que o problema de um pode ser a agonia de todos. Minutos depois da partida do Hayabusa 60, corre o boato de que se o trem desacelerar para menos de cem quilômetros por hora, a bomba de destruição em massa instalada na fuselagem ou sob um dos assentos será detonada e acabará com tudo, o que pode ser evitado se o governo conseguir repassar aos terroristas cem bilhões de ienes, cerca de quarenta milhões de reais, num prazo curto demais.
Enquanto se esforça para preservar a ordem entre a tripulação e os passageiros, Kazuya Takaichi, o maquinista interpretado por Tsuyoshi Kusanagi, lança-se a uma investigação silenciosa a fim de descobrir se algum dos malfeitores está a bordo, tratando de comunicar-se logo com Yuko Kagami, a representante do poder público local designada para administrar a crise. O filme cresce com a interação entre os personagens de Kusanagi e Machiko Ono, além do diretor deixar boa margem para explorar fenômenos das sociedades contemporâneas e despretensiosamente incluirJun Kaname na pele de Mitsuru Todoroki, um YouTuber obrigado a descer de seu falso pedestal e, junto com os outros, encarar a iminência da finitude, e do pior jeito.
E esse é o pulo do gato em “Explosão no Trem-Bala”. Por mais que Higuchi acerte nas sequências tensas e mesmo frenéticas de seu longa, fica nas entrelinhas uma alusão ao verdadeiro patriotismo, que considera um despautério que alguém não saia vivo para contar o que tormento que passou. Se uma nação inteira luta contra os planos de um adversário ninguém morre. O duro é quando esse adversário está muito mais perto do que se imagina.
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