Adam Sandler e Drew Barrymore no romance mais irresistível que você vai ver esta semana, na Max David Bloomer / Warner Bros.

Adam Sandler e Drew Barrymore no romance mais irresistível que você vai ver esta semana, na Max

Adam Sandler talvez seja o astro de trajetória mais irregular que Hollywood já produziu. Dá gosto ver a evolução artística de Sandler, em especial de cinco anos para cá, quando parece ter ficado mais evidente uma vontade de estrelar produções mais oxigenadas e até mais corajosas, a exemplo de “Arremessando Alto” (2022), dirigido por Jeremiah Zagar, e “Joias Brutas” (2019), de Ben e Josh Safdie, nos quais arrisca-se em papéis dramáticos ou tragicômicos sem medo do ridículo, cancha de que trabalhos como os do começo da carreira dotaram-no em larguíssima proporção.

Sandler parece ter acusado o golpe da maturidade (felizmente); contudo o DNA do besteirol talvez jamais saia de sua corrente sanguínea, e pelo que se assiste em “Juntos e Misturados” tomara que assim seja. Não é difícil para o diretor Frank Coraci achar a química que sustenta boa parte dos 117 minutos de seu filme, presente nas interações entre seu coprotagonista e uma colega de longa data, com quem leva uma história cujo desfecho temos alguma ideia de como será — ainda que ninguém esteja disposto a abrir mão de uma risada sequer. 

Desde “Afinado no Amor” (1998), também de Coraci, Drew Barrymore compõe com Sandler um anticasal às voltas com rupturas, traições e morte de seus respectivos cônjuges, o que os vai atraindo para uma relação tão anticonvencional quanto profunda, mas só depois de vencida uma cornucópia de mal-entendidos e desencontros. Na primeira sequência, Jim Friedman espera Lauren Reynolds voltar do toalete enquanto sua caneca está vazia e a dela, cheia. Como ela demora, ele tem sede e nenhuma das garçonetes em trajes sumários do bar esportivo que costuma frequentar dá o ar da graça, Jim avança sobre a cerveja da moça. Essa é a primeira das blagues melequentas, quase escatológicas do roteiro de Ivan Menchell e Clare Sera, aparentemente ingênua, mas que abre o enredo para uma série de esclarecimentos sobre as vidas desse par de corações desiludidos, muito mais semelhantes do que eles gostariam de reconhecer.

Pai de três garotas que educa como meninos, Jim se vê em apuros quando precisa comprar um pacote de absorvente íntimo para Hilary, a primogênita a quem chama de Larry interpretada por Bella Thorne, ao passo que Lauren se desespera sem saber que revista de nu feminino levar para Brendan, de Braxton Beckham, o filho mais velho, depois de tê-la rasgado num acesso de fúria. É quase patético crer que os dois possam mesmo ter alguma coisa, mas não só eles esticam a conversa como viajam juntos à África do Sul, onde o diretor trata de encadear mil outras situações, como um safári, do qual Lauren participa do alto, num paraquedas, sendo puxada por um jipe, ou uma sessão de massagem, compartilhada pelos dois feito um casal que atravessa os anos ainda interessado um pelo outro. Todas essas fontes para mais situações cômicas, onde entra parte do elenco de apoio, competente, embora um pouco vasto além da conta.

No terceiro ato, o filme se alterna entre momentos de relativa placidez, com direito a elucubrações afetivo-intelectuais sobre o valor da família e momentos luminosos, como a suave aproximação entre Lauren e Lou, a adorável caçula de Jim vivida por Alyvia Alyn Lind, encantada pela mulher que entoa os versos de  “Somewhere Over the Rainbow” de maneira  quase tão maviosa quanto sua finada mãe. “Juntos e Misturados” não deixa de ser a prova de fogo de que Sandler se vale para alçar os voos mais pretensiosos de sua trajetória profissional, muito tempo depois — e, sim, nisso ele conseguiu muito mais êxito que Barrymore —, mas também pode ser apreendido somente pelo que é em essência: uma trama engraçadinha, benfeita e às vezes até comovente.

Filme: Juntos e Misturados
Diretor: Frank Coraci
Ano: 2014
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.