Apesar da pompa que cerca o Vaticano, os hábitos alimentares dos papas tendem à simplicidade. Seja por escolha pessoal, seja por formação espiritual, muitos pontífices preferiram refeições modestas, que os lembravam de suas raízes familiares, tradições locais ou memórias da juventude. Em meio ao luxo dos palácios apostólicos, reina frequentemente um cardápio discreto, onde o essencial é mais valorizado do que o excessivo. Comer, para eles, muitas vezes é mais um gesto de comunhão com o cotidiano do que um ato de indulgência.
Essa relação com a comida ajuda a revelar aspectos pouco conhecidos de suas personalidades. Os pratos prediletos de um papa dizem tanto sobre sua origem quanto suas palavras ditas em homilias. Há os que nutrem afeto por receitas da infância, como massas, doces caseiros ou pratos típicos de suas regiões de nascimento. Outros, mesmo ocupando o posto mais alto da Igreja, mantêm hábitos alimentares quase espartanos, recusando banquetes e preferindo a repetição diária de refeições simples, com porções controladas.
No coração da Santa Sé, onde decisões políticas e espirituais moldam o mundo católico, pequenos detalhes como uma empanada ou um doce de padaria polonês ganham um valor simbólico. Eles resgatam a memória, reforçam a humildade e funcionam como um elo entre o papa e os fiéis comuns. Conhecer essas preferências é também uma maneira de humanizar figuras frequentemente envoltas em formalidade, revelando que até o sucessor de Pedro sente saudade do sabor de casa.

Nascido em Buenos Aires, Papa Francisco manteve o paladar voltado para as raízes argentinas. Era fã de empanadas, prato comum em celebrações familiares. Preferia frango assado a carnes nobres e dispensava o luxo à mesa. Um dos seus pratos prediletos era a milanesa à napolitana com purê de batatas, que costuma lembrar sua juventude. Evitava sobremesas elaboradas, optando por gelatina ou pudim. Costumava tomar chá mate diariamente, como fazia quando era cardeal em Buenos Aires. Recusava menus exclusivos e preferia as refeições simples da Casa Santa Marta.

Com alma bávara, Bento XVI sempre demonstrou apego à culinária alemã. Gostava de Maultaschen, um tipo de massa recheada, tradicional no sul da Alemanha. Apreciava a Weißwurst, linguiça branca típica da Baviera, que costumava comer com mostarda doce. Nos cafés da manhã, preferia pão integral com geleia e uma xícara de chá. Era também admirador do Apfelstrudel, sobremesa de maçã que remetia à infância. Moderado e disciplinado, jamais exagerava nas porções. Comia com discrição, refletindo sua postura reservada e contemplativa.

Filho da Polônia, João Paulo II carregava no prato lembranças da terra natal. Adorava pierogi, espécie de pastel cozido recheado com batata ou queijo. Também era fã do bigos, um ensopado robusto de repolho e carne defumada. A sobremesa que mais o encantava era a kremówka, doce mil-folhas polonês — depois de mencioná-la em público, causou febre entre os fiéis. Dizia-se que, jovem, venceu uma aposta comendo mais de uma dúzia de kremówkas. Sempre gostou de refeições fartas, mas nunca requintadas. Valorizava a comida afetiva e simples, como a fé popular.

Natural da região de Bérgamo, João XXIII era apaixonado pela culinária do norte da Itália. Preferia pratos robustos, como polenta com gorgonzola e risoto à milanesa. Sua irmã, que cuidava de sua alimentação, mantinha um caderno com receitas típicas que ele adorava. Gostava de massas caseiras e não dispensava um bom prato de sopa antes das refeições. Era conhecido por ser afetuoso e bem-humorado também à mesa. Comia com entusiasmo, mas sem ostentação. Sua dieta refletia a vida camponesa da infância.

Vindo da nobreza romana, Pio XII tinha gosto refinado e apreciava os clássicos da culinária italiana. Gostava de spaghetti alla carbonara bem tradicional, feito com guanciale e gema crua. Era fã de pratos como saltimbocca alla romana, delicadamente temperados. Apesar da rigidez do cargo, gostava refeições bem preparadas e detalhadas. Sabia nomear ingredientes e tinha interesse pela arte da boa mesa. Era comum que suas refeições fossem organizadas por cozinheiros de formação francesa. Preferia comer em silêncio, com postura quase cerimonial.

Reservado, Paulo VI tinha hábitos alimentares austeros, mesmo vindo de família burguesa. Suas refeições eram compostas por sopas leves, peixe grelhado e legumes cozidos. Dificilmente aceitava pratos sofisticados ou sobremesas ricas. Preferia frutas frescas e um copo de água com gás. Em tempos de jejum ou oração, limitava-se a pão e azeite. Certa vez, recusou um banquete preparado por embaixadores, optando por uma refeição monástica. Sua mesa era discreta, como sua personalidade.