A despeito da sufocante ânsia por se destacar em meio à tacanhice e à sobrevalorização do excepcional, do inimaginável, do fabuloso, todos queremos ter a vida o mais normal, o mais comum, até o mais previsível quanto se puder, e uma vez que chega-se a esse paraíso, em que as ilusões restam devidamente sepultadas, as neuroses evolam-se como o perfume das flores no primeiro raio de sol e as mágoas, derradeiro refúgio da tristeza, somem como se cansadas de não mais causar dor, reflora a esperança da felicidade possível, condição pela qual tanto se luta, mas sói escapar-nos por entre os dedos, como se, no fundo, algum detalhe nefasto indicasse que não a merecemos.
Num dado momento da vida, começa-se a notar evidências cada vez mais inequívocas de que o amor é mesmo um acidente de percurso na solidão invencível de todos nós, mas a cada cena, “Jogo do Amor — Ódio” parece querer deixar claro que é uma comédia romântica como todas as outras. E tanto pior quando dirigida por alguém que conhece do riscado. Peter Hutchings tem bastante experiência nessas narrativas; entretanto, a impressão que teima em resistir é que apenas copia e cola o que ele mesmo já fez, sem nenhuma tola preocupação artística.
Gostemos ou não, o tempo passa, muito rápido, na maior parte das vezes, insuportavelmente devagar, a depender das circunstâncias, e homem nenhum é capaz de fazer nada a respeito, por mais que pense o contrário. Podemos, se tanto controlar o avanço dos anos, dos meses, das semanas, dos dias, das horas, e, sendo bastante franco, seria um tormento dos diabos assistir à marcha da eternidade, tudo sempre se repetindo da mesma forma, igualzinho, num mundo cada vez mais populoso, mais caótico, mais tomado de poluição, calor, hediondez, com a diferença de se ficar sozinho, não reconhecer mais ninguém a sua volta, sentir-se um exilado na própria vida, um prisioneiro de uma ideia de esperança há muito obsoleta.
Pode não parecer, mas a adaptação de Christina Mengert para o best-seller homônimo da australiana Sally Thorne, de 2016, é um tratado sobre o tempo — mais precisamente sobre a perda de tempo —, desperdiçado por duas pessoas interessadas uma na outra, mas que por uma razão forte (ou nem tanto) são capazes de passar por cima desse sentimento avassalador. Esses dois bravos guerreiros são Lucy Hutton e Joshua Templeman, interpretados por Lucy Hale e Austin Stowell, digladiando-se em lados opostos de uma sala comercial depois que a editora em que ela trabalha é submetida a um processo de incorporação pelo escritório do qual ele é o assistente do diretor-executivo. Hutchings e, ainda mais, Hale e Stowell tentam, mas nem apelar para a nudez dá um jeito nas piadas velhas e no tema batido. Nem sempre o carisma de belos rostos é o bastante. Paciência.
★★★★★★★★★★