Crônica

O tempo que resta para ser esquecido

O tempo que resta para ser esquecido

Um dia, dominado pela pilha de nervos provocada pela Doença de Chagas, o meu velho correu até a sede da fazenda, catou o 38 e disparou um pipoco certeiro na fronte do boi tinhoso que estava apartado das demais reses. Ninguém entendeu nada. Foi uma cena bestial que redundou num baita prejuízo financeiro e emocional. A gente tinha assistido à execução sumária, mal calculada, do único reprodutor do rebanho. Como dívida impagável, o meu velho ficou com aquele ato de bruteza arquivado na gaveta da memória.

Os caras que sabem tudo

Os caras que sabem tudo

Vivemos na era das certezas instantâneas, onde todo mundo parece ter uma opinião formada sobre tudo — e faz questão de anunciá-la. As redes sociais viraram uma espécie de palanque permanente, onde quem grita mais alto ganha mais atenção. Nesse mar de convicções prontas, fico cada vez mais fascinado pelos que sabem tudo, o tempo todo. Muitos se apresentam como especialistas de ocasião, distribuindo verdades absolutas a cada novo assunto. No fundo, talvez estejam apenas vendendo certezas embaladas para consumo rápido.

A quinta-série teima em habitar o coração dos homens

A quinta-série teima em habitar o coração dos homens

Éramos quinze veteranos em regular estado de conservação. A gente ainda dava um caldo. Embarcamos na novíssima van do Calcinha para vencer os 150 km até a pequena e pacata cidade de Gueirobas da Serra, que sequer constava nos mapas oficiais. A cidade era ruim, mas, o povo, bom-até-mandar-parar. A ida dentro daquele coletivo foi silenciosa e tranquila. Afinal, tínhamos acordado às 5 da matina e estávamos sonolentos. O jogo comemorativo aos 70 anos do Rochinha estava agendado para começar pontualmente às 9. Ou não.

Grupos de zapzap

Grupos de zapzap

Se antes os encontros aconteciam na praia, no bar ou na pelada de sábado, hoje eles estão nos grupos de WhatsApp. Amigos, família, colegas de trabalho — ninguém escapa da enxurrada de memes, debates inflamados e piadas ruins (ou quase sempre ruins). O problema? Os eventos acabam, mas os grupos permanecem. E a vida social, cada vez mais, acontece onde menos se espera: nas redes antissociais.

Desconstrua seus sonhos

Desconstrua seus sonhos

Venda o carro. Vá a pé até a próxima venda e compre frutas da estação. E faça de um limão uma rima ou nada. Aquele nado-de-cachorrinho no ribeirão fresco da sua meninice. Sem querer, acabei acometido por insights ligeiramente avacalhados. Afrescalhe-se. Vista uma calça vermelha. Compre um livro de poesia. Mova-se, mas, acima de tudo, comova-se com o belo e indigne-se com as injustiças.