A decepção pode ser instrutiva. O vídeo linkado abaixo pretende problematizar isso. Você é mais um dos que ficaram empolgadas quando foi anunciado que seria lançado “Matrix Resurrections”, a terceira continuação do clássico “Matrix”, de 1999? Eu estava confiante, porém desconfiado. Afinal, o prognóstico da série não era nada bom. Vamos relembrar. O primeiro filme era brilhante e fez história. Transformou seus idealizadores, os então irmãos Wachowski, que se tornaram irmãs, em gurus da pós-modernidade. Para o segundo e o terceiro episódios não se esperava menos do que genialidade explícita em 24 quadros por segundo. Resultado: decepção. “Matrix Reloaded” tem suas qualidades, mas é um filme confuso, sem um norte definido. “Matrix Revolutions” é lamentável. Não é uma revolução, é apenas um imenso equívoco.
Antes de se tornarem celebridades reclusas e inatingíveis, acima do bem e do mal, as Wachowski deram uma entrevista em que disseram, em tom de brincadeira, que gastaram todas as suas ideias no primeiro “Matrix”. Ao que parece a piada se revelou a mais pura verdade. É fácil acusar as Wachowski de desleixo. De terem, deliberadamente, transformado a pérola metafísica que tinham em mãos em um mero filme de ação, em nome das bilheterias. Nada mais falso. O fato é que tentaram, mas fracassaram.
As comparações são inevitáveis. No primeiro filme, cada cena, cada fala, cada detalhe era milimetricamente planejado, tinha seu sentido no conjunto. Nos episódios seguintes este apuro foi substituído por uma graça de elefante. Ao invés de sutileza, temos uma sucessão de clímax descontrolados que não acrescentam nada ao enredo. São tantos que um tira o efeito catártico do outro. A impressão que fica é que, nos anos de intervalo entre as obras, as Wachowski ficaram simplesmente bolando cenas de impacto visual, sem se preocuparem em refinar um roteiro. O resultado é que a história e os diálogos inteligentes do primeiro “Matrix” foram substituídos por clichês.
Os erros se multiplicam, mas o maior deles está na premissa geral das duas continuações. O pecado capital das Wachowski foi trazer o perigo do mundo virtual para o mundo real. A invasão de Zion, a última cidade humana, por robôs sentinelas é um entrecho dramático simplesmente impossível de ser resolvido. Nem por um exército inteiro de Messias. Por um motivo simples: eles não podem agir fora da realidade virtual da Matrix. Ao subverter este princípio básico, as Wachowski jogaram fora todos os conceitos metafísicos que davam sentido mitológico a série. Mas o que poderia ser uma premissa satisfatória? Creio que teria sido bem mais eficaz uma invasão ao computador central de Zion, como foi sugerido no primeiro filme. A essência de “Matrix” teria se mantido.
Considerando tudo isso, o que poderíamos esperar de um quarto filme? Seria possível “ressuscitar” a saga, ressuscitando seus personagens? Infelizmente, a resposta foi “não”. O novo “Matrix”, dirigido por Lana Wachowski é um filme desonesto, preguiçoso e movido pela vaidade. Como e por quê? Assista o vídeo publicado no canal do YouTube da Revista Bula e descubra.