Autor: Ruth Borges

A cidade não está vazia, existe, sim, amor em São Paulo

A cidade não está vazia, existe, sim, amor em São Paulo

Somos feitos de antagonismo. Somos uma parte que cede, outra que resiste, uma parte egocêntrica, outra solidária. Uma que esnoba as diferenças sociais, outra que se compadece das injustiças. Somos feitos de um material antagônico que diz e se contradiz. Somos tecidos por forças conflitantes, mas que impulsionam a vida porque fazem movimento.

Não é a distância que separa as pessoas. É o tanto faz

Não é a distância que separa as pessoas. É o tanto faz

As relações modernas se entrelaçam numa grande rede furada de afeto. Perto e longe, estamos todos, ao mesmo tempo, entre o se esconder e o se achar. Algo como um gigantesco encastelamento coletivo, esconderijo perfeito para nossas fraquezas. Em terra de pique-esconde virtual uma ligação é prova de amor e olhos nos olhos não passam de uma sugestiva canção buarqueana.

Ame todas as vezes como se fosse a última

Ame todas as vezes como se fosse a última

Final do ano chegando. Entre promessas, mandingas e orações, à zero hora do novo ano estamos a pedir encarecidamente a providência do sucesso. Fico pensando como deve ser tensa a galera do lado de lá, anotando milhares e milhares de pedidos, vindos de toda parte do planeta. Imagino uma imensa bolsa de valores. Gente ao telefone, gesticulando, correndo com suas cadernetas, desesperados, de um lado para o outro.

A vida começa quando decidimos parar de agradar a plateia

A vida começa quando decidimos parar de agradar a plateia

É certo que a arte imita a vida. Muitos vivem quase que exclusivamente para atender às expectativas do público, seja por uma questão de vaidade, jogo exibicionista, ou porque acreditam dever constantemente ao outro a condição de servir — sob o custo da angústia e do desespero diante da anulação da própria existência. Aquele que faz tudo para agradar a todos enquanto se desagrada sentirá, cedo ou tarde, o arrombo no peito tomado por um vazio existencial.