Não seja ou, pior ainda, não pareça ser ingênuo. As raposas políticas não dizem nada em público porque tiram proveito do fato, mas consideram que nesta área da atividade humana a ingenuidade é o único defeito pior do que a traição.
Estude ciência política. Os fatos e personagens de importância na história ocorrem duas vezes, de acordo com Friedrich Hegel; a primeira como tragédia e a segunda como farsa, completa Karl Marx. Na política, infelizmente, os personagens autoritários e vulgares ocorrem a primeira vez como tragédia e as outras também.
Não reclame da vida. Numa trincheira, quem faz discurso antibélico é o primeiro a ser eliminado. Ou chama a atenção do fogo inimigo ou é silenciado antes pelos próprios companheiros para que isto não aconteça.
Faça alianças. Um clichê clássico da política afirma que a melhor coisa a ser feita, quando não se consegue derrotar o maior inimigo, é aliar-se a ele. Perfeito, mas é recomendável observar os detalhes: 1) o inimigo autêntico, formado na escola do ódio e da intolerância, não perdoa; 2) no decorrer da aliança, se houver uma chance, o antigo desafeto reabrirá a ferida e lutará contra o novo aliado cujos insultos e desfeitas não foram esquecidas.
Procure ser racional. Lembre-se, no entanto, que algumas teorias funcionam apenas em conjuntos ou universos determinados. Millôr Fernandes sabiamente registrou que 1 + 1 só é igual a 2 no sistema decimal. No sistema binário, o resultado é bem diferente. Isto explica porque análises corretas erram infantilmente e estratégias brilhantes desmoronam pateticamente, com destaque para as que não preveem as reações emocionais dos envolvidos e as intervenções aleatórias e autoritárias do acaso.
Seja leal, mas saiba que a fidelidade permanente na atividade política é um perfeito non-sense, uma contradição em termos, algo assim como o Vaticano produzir um filme com a vida sexual de Santa Clara e São Francisco de Assis. Ou os xeiques da Arábia Saudita produzirem um filme com a vida sexual do profeta Maomé. O limite da lealdade quase sempre é a própria sobrevivência. Em determinados casos, a honra.
Preste atenção às fisionomias. Durante uma negociação, o olhar muitas vezes trai e desmente o discurso. O observador atento tira a média entre os dois e se aproxima das intenções do interlocutor. Suspeitar e desconfiar de alguém são as coisas mais fáceis do mundo; decifrar e compreender as pausas, olhares, tiques nervosos, parênteses e entrelinhas, isso dá trabalho.
Seja inteligente. Evite fazer acordos “secretos” se mais de duas pessoas estiverem presentes ao encontro. Os poderosos de verdade só tomam decisões cruciais sem a presença de testemunhas. A quebra desse princípio, das cavernas pré-históricas aos palácios do século 21, causou à humanidade mais dores e prejuízos do que a fome e as doenças.
Cuidado com o que fala. Na política, as palavras “sempre” e “nunca” costumam andar nas bocas de pessoas sem tempo para analisar direito o que fazem; por coincidência, são as primeiras a não entender direito o que acontece ao redor. Você pode não considerar isto um erro, mas todos estão vendo.
Seja objetivo. Numa mesa de negociação, o senso de justiça vale o dobro da generosidade sem base na realidade e o triplo da inocência de propósitos sem os pés no chão. Durante a negociação, o mínimo deve ser oferecido com firmeza e o máximo negociado ao extremo. Entre os gladiadores, a gentileza tinha péssima reputação.
Leia Maquiavel. O florentino adicionou um adjetivo aos dicionários e, desde a publicação de “O Príncipe”, em 1532, poupou tempo à humanidade ao revelar os mecanismos utilizados pelos poderosos para, via coerção e diversas formas de pressão e violência, impor com rapidez e eficiência suas políticas à sociedade. O livro não fez o mundo melhor, mas é inteligente e divertido, e mostra as armas e vestimentas do rei quando ele não está nu.
Fale o mínimo possível. Falar mais do que o necessário demonstra falta de sensibilidade ou de inteligência, e prejudica sobretudo os que mais precisam de acordos e resultados políticos. Sobre os acordos, pode-se chegar ou não a eles, mas de preferência sem torturar os números e as palavras, e sem exasperar a paciência dos participantes.
Saiba a hora de voltar atrás. Quem não aprendeu a recuar na hora certa, e desta forma recuperar as forças dispersas e feridas durante a batalha, será obrigado a desistir da vitória; avançam os que reconhecem os seus erros enquanto acontecem.
Estude história. Líderes políticos que, por motivos insondáveis da alma, não conhecem as biografias de Péricles, Napoleão, Trotsky e Churchill, devem exercer o seu direito constitucional por uma destas escolhas: 1) fazer teste vocacional, mesmo que tardio; 2) procurar um psiquiatra; 3) mudar-se para Fernando de Noronha, se gostar de praia, ou para Alto Paraíso de Goiás, se não gostar; 4) largar a profissão e cuidar da família.
Corra atrás da sorte. Na atividade política, sem uma boa dose de sorte você não vai até a esquina, quanto mais a Brasília.
Não ouça e nem aceite conselhos de estranhos.