Suspense baseado em best seller de Stephen King com 5 milhões de cópias vendidas está na Netflix Divulgação / The Weinstein Company

Suspense baseado em best seller de Stephen King com 5 milhões de cópias vendidas está na Netflix

A relação entre Stephen King e o cinema é uma das mais produtivas e marcantes na história da cultura pop. Em 2017, ano em que King completou setenta anos, o interesse por suas histórias voltou a ganhar destaque, seja por um planejamento deliberado ou por um timing perfeito. De qualquer forma, essa fase marca um revival merecido da carreira do escritor mais bem-sucedido da literatura comercial dos séculos 20 e 21. As narrativas de suspense e terror psicológico — ou, às vezes, apenas puro horror — de King voltaram com força total, se é que algum dia perderam o fôlego.

O sucesso estrondoso de “It — A Coisa”, dirigido por Andy Muschietti e estrelado por um aterrorizante palhaço, “A Torre Negra”, de Nikolaj Arcel, que explora a busca de um jovem por seu lugar no mundo, “Jogo Perigoso”, de Mike Flanagan, um thriller psicológico sobre as perversidades de um casal em crise, e “1922”, de Zak Hilditch, que revela a ganância desumana de um rancheiro do Nebraska, trouxe milhões de espectadores de volta às salas de cinema. No entanto, foi uma década antes que “O Nevoeiro” já impressionava o público, mergulhando-o em uma atmosfera sufocante.

Entre os diretores que mais fielmente traduzem a visão de King para a tela, Frank Darabont talvez seja o mais comprometido em capturar a essência do autor. Em “O Nevoeiro”, ele combina com maestria elementos de ficção científica e horror, dois gêneros que King domina com rara habilidade. Juntos, o cineasta e o escritor transformaram a novela “The Mist” (1980) em um filme que vai além do entretenimento, explorando profundas questões filosóficas e reflexões sobre a natureza humana — um tema recorrente nas obras de King.

A história se passa em uma tranquila cidade do Maine, onde David Drayton, um pintor de pôsteres para produções de cinema e televisão, vive com sua esposa e filho. David, interpretado por Thomas Jane, personifica o típico cidadão americano comum. No entanto, sua vida pacata é interrompida quando uma árvore derruba-se sobre sua casa durante uma tempestade, cortando a energia e deixando-o com uma sensação de inquietação. Essa situação já seria suficiente para desestabilizar a rotina de David, mas é apenas o começo dos eventos que se desenrolam. Uma densa e incomum névoa começa a se espalhar pelas montanhas em direção à cidade, trazendo consigo criaturas monstruosas, e os habitantes são forçados a se abrigar em uma mercearia local.

O ambiente fechado e a tensão crescente tornam-se um campo fértil para os conflitos humanos. “O Nevoeiro” poderia ser um simples filme de terror sobre monstros invisíveis, mas Darabont vai além, revelando as verdadeiras “criaturas” que habitam o coração humano. No confinamento da mercearia, emergem vaidades, medos e mesquinharias. David, tentando manter a calma e a liderança, enfrenta a fanática Sra. Carmody, vivida por Marcia Gay Harden, que usa o medo para espalhar suas crenças apocalípticas entre os sobreviventes. Enquanto isso, o exército, presente na cidade há algum tempo devido ao misterioso Projeto Ponta de Flecha, é impotente diante do caos que se instala.

O desfecho de “O Nevoeiro” é uma das conclusões mais sombrias e impactantes já vistas em filmes baseados nas obras de King. Ele não apenas reforça a visão pessimista de King sobre a humanidade, como também serve como um espelho para nossa sociedade, obcecada por si mesma e incapaz de lidar com seus próprios monstros internos. A adaptação de Darabont é um retrato poderoso da fragilidade humana, ecoando a denúncia das misérias da alma que King já havia explorado de forma tão brilhante em “Louca Obsessão” (1990), dirigido por Rob Reiner.


Filme: O Nevoeiro
Direção: Frank Darabont 
Ano: 2007
Gêneros: Ficção científica/Terror 
Nota: 8/10