O filme mais bonito (e hipnotizante) que você vai ver na Netflix este mês Divulgação / Netflix

O filme mais bonito (e hipnotizante) que você vai ver na Netflix este mês

Por mais fortuna que alguém possua, é impossível prever o que o destino lhe reserva. O protagonista de “Uma Linda Vida” é um desses indivíduos que, entre encontros e desencontros, acaba percebendo que as oportunidades podem surgir em momentos inesperados. Quando ele sente que a chance de mudar de vida está próxima, o medo se torna uma constante. O receio de perder essa rara oportunidade assombra sua jornada, tornando o cenário ainda mais instigante.

O diretor irano-dinamarquês Mehdi Avaz demonstra um talento peculiar para transformar um enredo delicado em uma narrativa de alta tensão emocional. Ele permite que a história siga seu próprio curso de forma orgânica, sem interferências visíveis. Avaz traz à tona o elemento romântico no momento exato, equilibrando-o com o inevitável fatalismo da trama. Esse equilíbrio cuidadoso permite que o romance e o drama coexistam sem sobrepor-se, mantendo a profundidade do enredo.

Trabalhando a partir do argumento de Stefan Jaworski, o diretor consegue imprimir uma atmosfera de conto de fadas moderno, com alterações sutis que adicionam camadas de complexidade à narrativa. Logo na abertura do filme, o espectador é direcionado para o caminho que a história seguirá. Elliott, o protagonista interpretado por Christopher Nissen, músico conhecido na Dinamarca, é visto trabalhando arduamente em um cais, carregando bandejas de peixe em uma manhã ensolarada, mas gélida. A cena inicial já entrega um vislumbre da vida simples e dos dilemas do personagem.

Através de uma breve interação entre Elliott e o gerente do cais, fica claro que o protagonista enfrenta dificuldades financeiras. Nas cenas subsequentes, Avaz começa a desdobrar a personalidade misteriosa de Elliott, permitindo que o público compreenda melhor o tormento que ele carrega. O arquétipo do homem introspectivo, resistente aos desafios da vida, se encaixa perfeitamente no perfil de Nissen. Seu desempenho lembra a aura de anti-heróis consagrados, como aqueles vividos por Paul Newman, que, com sua simplicidade e magnetismo, conquistou plateias ao longo de sua carreira.

Conforme a história avança, observa-se a transformação gradual de Elliott. Ele passa a vislumbrar uma possível carreira artística, enquanto tenta lidar com a complicada relação com Oliver, seu antigo amigo e parceiro, que agora representa um peso em sua vida. Sebastian Jessen, no papel de Oliver, complementa com maestria a atuação de Nissen, e juntos, constroem um segundo ato cheio de promessas grandiosas. Esse ato promete um desfecho intenso, sem atalhos ou soluções fáceis.

O carisma de Nissen é o que mantém o público cativado por essa história que, embora simples em sua essência, explora questões humanas profundas. Já no terceiro ato, um incêndio surge como elemento definidor para o futuro de Elliott. Apesar da brutalidade dessa virada, a narrativa faz parecer que o protagonista está pagando um preço alto demais por suas escolhas, especialmente pelo pacto que havia feito com Oliver. A intensidade da mudança de rumo pode ser vista como uma consequência desproporcional à sua falha moral, mas ainda assim, gera reflexões sobre arrependimento e redenção.

Por fim, a gravação de um videoclipe oferece a Elliott uma espécie de absolvição, libertando-o dos pecados que, aos olhos do público, ele já havia purgado. O romance com Lilly, filha de sua empresária, interpretada por Inga Ibsdotter Lilleaas, surge como uma nova promessa para o futuro do protagonista. Embora o relacionamento pareça um pouco forçado em alguns momentos, ele serve como um símbolo de renovação. Elliott, um homem comum, construído por suas falhas e acertos, se levanta após cada queda, e a história mantém seu tom lírico até o fim, sem perder a essência de uma narrativa sobre recomeços.


Filme: Uma Linda Vida
Direção: Mehdi Avaz
Ano: 2023
Gêneros: Musical/Drama/Romance
Nota: 8/10