A obra-prima de Denis Villeneuve, um dos filmes mais brutais e impactantes da história do cinema, está na Netflix Divulgação / Lionsgate

A obra-prima de Denis Villeneuve, um dos filmes mais brutais e impactantes da história do cinema, está na Netflix

“Sicario: Terra de Ninguém” surge como uma abordagem poderosa sobre a relação indissociável entre violência e tráfico de drogas, um tema crucial nos debates contemporâneos sobre segurança pública e criminalidade. Denis Villeneuve, um dos mais notáveis diretores da atualidade, conduz essa narrativa com maestria logo no início, sem poupar o espectador da crueza e da intensidade que o assunto exige. O filme, com roteiro assinado por Taylor Sheridan, abre com uma cena impactante que retrata uma casa onde mais de trinta corpos foram encontrados, todos ligados, de alguma forma, ao narcotráfico. O tráfico, como nos mostra Villeneuve, não perdoa erros: entre as vítimas estão aqueles que deixaram dívidas, traficantes que falharam e policiais inflexíveis com o crime. Essa cena inicial, executada com o brilho característico de Villeneuve, é um prenúncio da ausência de qualquer moralidade nas operações do submundo retratado, onde os líderes das quadrilhas ocupam o topo da cadeia, cercados por traidores, reforçando que a lealdade, rara e valiosa, é uma mercadoria altamente cobiçada nesse ambiente.

Este cenário sombrio é o solo fértil para a constante escalada de violência, onde facções rivais e a polícia se enfrentam em uma guerra alimentada pela compra e venda de armas e drogas. A narrativa se aprofunda na economia global do narcotráfico, um mercado que movimenta cifras assustadoras — cerca de 900 bilhões de dólares por ano, o que equivale a 1,5% do PIB mundial. O tráfico estende seus tentáculos para todos os cantos do mundo, seja nas favelas de grandes metrópoles ou nas aldeias isoladas de países em desenvolvimento. E, em todos esses lugares, a droga seduz as comunidades mais vulneráveis, oferecendo promessas ilusórias de enriquecimento fácil, especialmente para jovens com poucas oportunidades educacionais e de futuro. Esses jovens, muitas vezes negros e sem alternativas, tornam-se peças-chave em um sistema devastador, conduzido pela lógica implacável do lucro e da violência.

Os sicários de hoje, assassinos contratados pelo narcotráfico, são uma evolução moderna dos antigos zelotes, que se revoltavam contra os invasores romanos na Judeia há milênios. Agora, esses matadores operam nas fronteiras do México, e a agente do FBI Kate Macy, interpretada por Emily Blunt, entra em cena como uma combatente implacável desse cenário. Na abertura do filme, sua atuação logo destaca uma policial eficiente e destemida, o que a coloca como protagonista de uma trama intensa e cheia de reviravoltas. Apesar de sua competência, sua jornada assemelha-se à de outros filmes que exploram a figura do herói em ambientes dominados pela violência, como “A Hora Mais Escura”, de Kathryn Bigelow. Com Matt e Alejandro — personagens misteriosos interpretados por Josh Brolin e Benicio Del Toro – ao seu lado, Macy começa a perceber que a missão que deveria ser um sucesso está se desenrolando de maneira cada vez mais questionável. Enquanto a operação desmorona, a personagem de Blunt vê-se envolta em suspeitas sobre os verdadeiros motivos de seus colegas.

Villeneuve mantém o suspense e a tensão no limite, enquanto desenvolve a complexidade psicológica de sua protagonista. Macy, sob constante pressão, equilibra a ação com uma inquietação crescente, sugerindo que talvez suas suspeitas sejam frutos de sua personalidade desgastada pelas adversidades. No entanto, o diretor, com sua habilidade característica, deixa o público em dúvida sobre os reais significados das ações dos personagens até que a trama atinge uma virada inesperada e magistralmente construída. Cada detalhe é planejado, demonstrando que, em um filme de Villeneuve, nada é colocado em cena por acaso.


Filme: Sicario: Terra de Ninguém
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2015
Gêneros: Suspense/Crime
Nota: 9/10