Alucinante, comovente e desesperador… A obra-prima de Park Jung-woo está na Netflix e vale cada segundo do seu final de semana Divulgação / Netflix

Alucinante, comovente e desesperador… A obra-prima de Park Jung-woo está na Netflix e vale cada segundo do seu final de semana

“Pandora” faz jus ao seu nome ao revelar uma visão abrangente e crítica de um dos maiores temores da sociedade contemporânea. O diretor Park Jung-woo se destaca por seu tratamento profundo e inventivo de uma trama que mergulha no impacto duradouro de eventos catastróficos na memória coletiva de uma nação. Sua abordagem, longe de ser didática, é envolvente e tecnicamente precisa, capturando a essência de um drama nacional que se perpetua além das manchetes passageiras.

Os cineastas sul-coreanos têm uma tradição de expor as fraquezas de instituições corruptas, e Park se alinha a essa prática com maestria. O escândalo de Park Geun-hye, ex-presidente da Coreia do Sul, é um exemplo notório de como eventos políticos podem moldar a percepção pública, mas “Pandora” amplia essa perspectiva ao abordar a constante ameaça de desastres naturais que assola a península coreana. O terremoto de Gyeongju em 2016, por exemplo, destaca não apenas a vulnerabilidade da região, mas também os investimentos em tecnologia e infraestrutura que minimizam danos.

O diretor Park Jung-woo, em colaboração com o aclamado Yeon Sang-ho, está emergindo como uma figura crucial no cinema sul-coreano, assim como Yeon fez com “Invasão Zumbi” (2016). Ambos os filmes compartilham uma tensão crescente e uma abordagem estilística similar, mas “Pandora” explora a pressão de uma catástrofe nuclear com um foco mais pessoal e introspectivo. A trama gira em torno de Jay-hyeok, interpretado por Kim Nam-gil, um engenheiro mecânico que enfrenta não apenas a falência de sua carreira, mas também um desastre iminente na usina nuclear fictícia de Hanbyul. O retrato de Jay-hyeok é enriquecido por uma narrativa familiar que ecoa o estilo de filmes como “Minari: Em Busca da Felicidade” (2020), que combina drama pessoal com uma reflexão mais ampla sobre a sociedade.

O filme se destaca pela construção de um enredo que entrelaça elementos pessoais e políticos, culminando em uma narrativa acelerada que leva Jay-hyeok a se tornar um herói improvável. Sua luta contra o tempo para evitar um desastre nuclear é tanto um ato de bravura quanto uma crítica às falhas institucionais. Embora Park insira comentários político-ideológicos ao longo do filme, seu impacto é atenuado pela intensidade das cenas e pela qualidade das atuações. A integração de vários elementos aparentemente distintos é uma das maiores conquistas de “Pandora”, que se mantém relevante e emocionante apesar dos desastres sequenciais que o enredo apresenta.


Filme: Pandora
Direção: Park Jung-woo
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10