Com Channing Tatum, thriller de ação na Netflix levou 25 milhões de pessoas aos cinemas Divulgação / Columbia Pictures

Com Channing Tatum, thriller de ação na Netflix levou 25 milhões de pessoas aos cinemas

A ideia do apocalipse sempre desperta um fascínio intenso, especialmente entre aqueles que ainda mantêm alguma sensibilidade frente aos desafios que a humanidade enfrenta. A pandemia de Covid-19, que se espalhou pelo mundo com uma rapidez avassaladora, concretizou uma das ameaças mais temidas da era moderna. Esse evento, cuja lembrança ainda ecoa e cujas consequências reverberam em múltiplos aspectos da vida cotidiana, mostrou que o temor de inimigos invisíveis não é uma simples paranoia.

As mutações incessantes do vírus mantêm viva a inquietação coletiva, reforçando a necessidade de vigilância constante. É nesse contexto que figuras como Roland Emmerich ganham destaque, com sua habilidade de transformar medos globais em produções cinematográficas monumentais.

Conhecido por suas criações de grandes proporções, como “Independence Day” (1996), “Godzilla” (1998), “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “Independence Day: O Ressurgimento” (2016), Emmerich tem se especializado em narrativas que exploram o colapso da civilização e a luta da humanidade para sobreviver a catástrofes de proporções épicas. Em “O Ataque”, o diretor alemão mais uma vez coloca em prática sua obsessão por destruição e caos, embora o timing da obra deixe transparecer uma ligeira desconexão com a realidade atual.

Independentemente da crença ou não em uma força divina, muitas pessoas encontram consolo na ideia de um propósito superior que governa as ações humanas, mesmo quando o caos parece reinar. No entanto, o verdadeiro desafio reside em suportar situações extremas de sofrimento e sair delas transformado, ainda que ferido.

Essa narrativa de resistência em meio à adversidade é frequentemente explorada em filmes distópicos, que oferecem uma perspectiva única para aqueles que se sentem desconfortáveis com o caos e a desordem que permeiam o mundo moderno. As distopias, de certo modo, funcionam como uma catarse para esses espíritos inquietos, permitindo que eles explorem seus medos e ansiedades em um espaço seguro, embora fictício.

Elas nos fazem questionar se, afinal, já atingimos o ponto mais baixo da decadência moral e econômica, ou se ainda estamos sendo segurados por alguma força superior que, por piedade, nos permite continuar vivendo nossas existências fragmentadas. A morte, nesse contexto, surge como a única saída para muitos, uma libertação final do desespero e da consternação que dominam suas vidas.

O filme “O Ataque” tem como ponto central um atentado devastador contra o coração da democracia americana — a Casa Branca. O roteiro, escrito por James Vanderbilt, oferece uma narrativa tensa e engenhosa, onde a sede do poder executivo é atacada de maneira inédita na história de 232 anos da nação.

É interessante observar que, embora o Capitólio tenha sido invadido em 6 de janeiro de 2021, a Casa Branca ainda permanece intocada por qualquer tentativa de golpe similar. No início do filme, uma cena aparentemente banal de uma garota dormindo ganha importância conforme o enredo se desenrola. O noticiário toca às 6h37, anunciando que o vice-presidente dos Estados Unidos conduzirá uma sessão no Senado para debater o plano de paz do presidente Sawyer para o Oriente Médio.

O olhar da garota, chamado à vida pela atuação de Joey King, é capturado enquanto ela observa uma esquadrilha de helicópteros no céu, trazendo um sorriso ao seu rosto. Essa menina é Emily, filha de John Cale, o protagonista interpretado com o carisma inconfundível de Channing Tatum. Juntos, Tatum e King injetam uma leveza necessária ao filme, que poderia se perder no peso de suas cenas de ação se não fosse pela química entre os dois. Além disso, Jamie Foxx também brilha em seu papel, elevando a produção com sua atuação consistente.

“O Ataque” se encaixa confortavelmente no catálogo de Emmerich, onde o foco está mais nas explosões e nos efeitos visuais do que na profundidade da trama. Embora o filme não alcance as mesmas alturas de outras produções do diretor, ele ainda oferece uma experiência de entretenimento sólida.

A relação entre Cale e sua filha adiciona uma camada emocional à narrativa, humanizando o protagonista e oferecendo ao público um ponto de conexão em meio ao caos. No entanto, o filme carece de inovação, reciclando muitos dos clichês típicos de filmes de ação e deixando pouco espaço para surpresas. Mesmo assim, para os fãs de aventuras apocalípticas e ataques massivos, “O Ataque” entrega o que se espera: adrenalina, destruição e heróis improváveis enfrentando desafios insuperáveis.

Roland Emmerich continua sendo um mestre na criação de cenários apocalípticos, mas sua fórmula começa a mostrar sinais de desgaste. Embora “O Ataque” não seja um desastre completo, ele também não traz nada de novo à mesa, ficando aquém das expectativas de quem busca algo além das convenções de Hollywood.

O público que se apega à familiaridade de grandes explosões e heróis em situações desesperadoras certamente encontrará momentos de entretenimento, mas para aqueles que esperam por algo mais inovador, o filme pode acabar sendo apenas mais uma entrada genérica no gênero de catástrofes.


Filme: O Ataque
Direção: Roland Emmerich
Ano: 2013
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 7/10