Considerada uma das histórias mais tristes do cinema, filme na Netflix foi indicado a 74 premiações e levou 3 Oscars Divulgação / Focus Features

Considerada uma das histórias mais tristes do cinema, filme na Netflix foi indicado a 74 premiações e levou 3 Oscars

O cinema polonês tem uma trajetória marcante, oferecendo ao mundo obras que, mesmo sem diálogos explícitos, transmitem profundas mensagens. Um exemplo disso é o filme “Cultura Prussiana” (1908), de Mojżesz Towbin, que abordava a revolta estudantil de Września em 1901. Este filme, censurado pelo czar Nicolau II, desapareceu por décadas, até ser redescoberto no ano 2000 em Paris pelos acadêmicos Małgorzata e Marek Hendrykowski. A recuperação desse registro cinematográfico foi uma conquista para a arte.

A Polônia se consolidou como um dos principais centros de produção cinematográfica, com diretores como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski e Roman Polanski. Suas obras, diversificadas e provocativas, frequentemente desafiavam o status quo, resultando em controvérsia e censura. Esses cineastas exploraram temas complexos e perturbadores, refletindo as profundas feridas históricas e sociais da nação.

Em “O Pianista”, Polanski traz à tona uma narrativa profundamente pessoal, baseada em suas próprias experiências durante o Holocausto. Ao recriar a história de Wladyslaw Szpilman, um talentoso pianista polonês, o diretor se reconecta com suas memórias traumáticas da Segunda Guerra Mundial, quando ele, ainda criança, escapou da morte certa no campo de concentração de Auschwitz. O filme é permeado por uma atmosfera de lirismo sombrio, à medida que Szpilman luta para sobreviver em uma Varsóvia destruída pela guerra e dominada pela brutalidade nazista.

Embora a história de Szpilman seja o ponto central, é impossível ignorar as semelhanças entre o protagonista e Polanski. Ambos foram vítimas do regime nazista, e o filme parece ser uma espécie de reconciliação tardia do diretor com seu próprio passado. Inspirado na autobiografia de Szpilman, o roteiro escrito por Ronald Harwood captura o espírito resiliente do pianista, que, em meio ao caos, se mantém fiel à sua arte e seus princípios. A cena inicial, em que Szpilman toca uma peça de Chopin durante o bombardeio de Varsóvia, simboliza a resistência cultural e pessoal diante da opressão.

Adrien Brody, que interpreta Szpilman, entrega uma atuação visceral, capturando a complexidade do personagem. Szpilman não é retratado como um herói tradicional, mas como um homem de convicções firmes, cuja teimosia e orgulho são, ao mesmo tempo, sua força e sua fraqueza. A relação entre Szpilman e o capitão nazista Wilm Hosenfeld, interpretado por Thomas Kretschmann, é um dos momentos mais impactantes do filme. O encontro inesperado entre os dois homens em meio à devastação da guerra revela nuances de humanidade mesmo nas circunstâncias mais desumanas.

A Polônia, esgotada pela guerra, serve como pano de fundo para essa história de sobrevivência, resistência e destino. “O Pianista” é mais do que um relato histórico; é uma exploração das profundezas da experiência humana diante do horror. O filme, assim como a própria trajetória de Polanski, é uma prova de que a arte pode transcender a tragédia, oferecendo uma forma de redenção, ainda que tardia.


Filme: O Pianista 
Direção: Roman Polanski
Ano: 2002
Gêneros: Guerra/Drama/Biografia 
Nota: 10