Você vai rir e chorar: filme com Emma Thompson e Adam Sandler na Netflix vai tocar seu coração Divulgação / Netflix

Você vai rir e chorar: filme com Emma Thompson e Adam Sandler na Netflix vai tocar seu coração

Tolstói escreveu que todas as famílias felizes se parecem, enquanto as infelizes são infelizes à sua maneira. Contudo, essa generalização, embora célebre, não se aplica de forma tão linear. Quando observamos de perto, percebemos que as razões pelas quais uma família enfrenta dificuldades frequentemente apresentam semelhanças. O núcleo familiar, tradicionalmente formado por pais e filhos, hoje expandido em seus papéis e dinâmicas, continua a ser um microcosmo da sociedade. Muitas dessas famílias compartilham desafios que envolvem o comportamento egoísta de um ou mais membros, comportamento que mina a harmonia e cria uma sensação de guerra emocional. Em vez de serem o pilar de apoio que as sustenta, esses indivíduos acabam agindo como agentes de sua ruína. Assim, parece que a sociedade, em vez de evoluir, dá passos para trás, regredindo em seus comportamentos mais primitivos e destruindo a coesão familiar, que deveria ser a base sólida de qualquer civilização.

Noah Baumbach tem se destacado por explorar, com uma sensibilidade ímpar, as complexidades que cercam as relações familiares. Em “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe” (2017), ele nos apresenta um retrato vibrante e multifacetado de uma família que, embora esteja entrelaçada por laços de amor, também é permeada por ressentimentos profundos. Essa tensão entre afeto e desentendimento é o motor que mantém os personagens ligados, mesmo quando o convívio parece insuportável. O filme revela, em suas camadas, que o vínculo familiar é indissolúvel, não importando o quanto seus membros tentem se afastar emocionalmente. Em 2019, Baumbach solidificou ainda mais sua reputação com “História de um Casamento”. Esse filme, que rendeu a Laura Dern diversos prêmios por sua atuação impecável como advogada de divórcios, traz ecos do mestre sueco Ingmar Bergman. O cineasta sueco foi pioneiro ao retratar a gradual deterioração dos laços conjugais, expondo o quão corrosivas essas relações podem ser, mesmo entre pessoas que um dia compartilharam um amor genuíno. A forma como Baumbach reflete essa dinâmica em seu filme é uma homenagem ao legado de Bergman, mas com uma abordagem contemporânea e envolvente.

Harold Meyerowitz, interpretado por Dustin Hoffman, é um personagem que encapsula muitas dessas nuances. Um artista que se encontra em decadência, ele é também um homem que se recusa a aceitar o envelhecimento, cercado de filhos que, embora falhos, tentam a todo custo se conectar com ele. Danny, vivido por Adam Sandler, representa a frustração de alguém que teve potencial, mas nunca o realizou completamente, um músico talentoso que agora se sustenta com trabalhos temporários. Já Matthew, interpretado por Ben Stiller, é um corretor de imóveis cuja estabilidade material esconde uma série de inseguranças emocionais. Jean, a filha menos destacada, tenta, sem muito sucesso, encontrar seu lugar nessa família disfuncional. No entanto, é Maureen, a quarta esposa de Harold, e Eliza, a filha de Danny, que trazem uma energia renovada ao filme. Suas aparições, embora esporádicas, são cruciais para equilibrar a narrativa, oferecendo uma perspectiva que vai além dos conflitos internos da família Meyerowitz.

O filme ainda se permite momentos de leveza em meio ao caos emocional. A cena em que Harold e Matthew, pai e filho, jantam em um restaurante é um exemplo brilhante de como Baumbach domina o timing cômico, sem perder de vista a tensão latente entre os personagens. Mesmo nas situações mais tensas, há espaço para o riso, como se a vida, em sua complexidade, oferecesse momentos de redenção no meio do sofrimento. Essa mistura de comédia e drama é o que torna o filme tão envolvente. O espectador se encontra oscilando entre o riso e as lágrimas, muitas vezes no intervalo de uma única cena. Baumbach nos lembra que, assim como na vida, os momentos mais marcantes não são aqueles puramente felizes ou tristes, mas sim aqueles que contêm um pouco de ambos.

Essa abordagem, que combina técnica cinematográfica apurada com uma sensibilidade emocional profunda, faz com que os filmes de Baumbach ressoem de maneira especial com seu público. Ele capta as complexidades da vida moderna, onde as relações são tanto fontes de alegria quanto de angústia. No fim, “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe” é um filme que transcende o simples retrato de uma família disfuncional; ele nos força a confrontar as nossas próprias fragilidades e, talvez, a valorizar um pouco mais aqueles que estão à nossa volta, com todas as suas imperfeições.


Filme: Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe
Direção: Noah Baumbach
Ano: 2017
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 9/10