Romeu amava Julieta, que amava Romeu. Mas no meio do caminho tinha uma pedra, duas famílias em pé de guerra, um amor proibido, uma trama, um padre, um veneno, um punhal. Se existiu alguém que sabia a fórmula para eternizar o amor, esse cara era Shakespeare. Muitas histórias surgiram depois, alguns romances com final feliz e outras tantas tragédias amorosas, mas os jovens de Verona continuam sendo o arquétipo do amor juvenil. Até hoje, Romeu e Julieta esfregam em nossa cara que o amor existe, que amar é possível, e que ser feliz para sempre, bom, aí depende do ponto de vista.
Quando eu digo que Shakespeare sabia das coisas não é por acaso. Esqueça as fórmulas prontas de histórias possíveis com finais esperados. Romeu e Julieta não teriam preservado o fascínio se tivessem se casado e tido filhos. Imagina os almoços de domingo com os sogros, as férias em família no Lago de Como. Que fastio! Um bom enredo se faz com imprevisibilidades, já sabia o autor. Por isso pôs em pauta não apenas o amor censurado, mas o ápice da sua causa e efeito.
Seria o amor imortal? Ou somos nós que imortalizamos os amantes no ponto mais alto do amor? Há quem diga que o fim os uniu e por isso foram felizes para sempre dentro do imaginário de amor sublime. Mas há que se convir que existe um enorme abismo entre o sentimento e a perpetuação dele. Portanto, amar agora não implica amar eternamente. O amor de Romeu e Julieta se eternizou porque a história foi cortada no seu clímax. Não houve tempo para que o amor entrasse em declínio. E esse é o auge do amor. Shakespeare sabia disso e deu exatamente o que o povo queria — e continua querendo: intensidade e insanidade. O que vai acontecer depois realmente não importa.
Não importa se eles juntariam os seus trapos e viveriam em uma cabana no meio da floresta. Não importa se as famílias se reconciliariam ou se digladiariam eternamente. Não importa se Julieta teria onze filhos ou se Romeu descobriria ser estéril. Não importa se Julieta teria um caso com o melhor amigo de Romeu ou se Romeu teria traído Julieta com uma dezena de italianas. O que vale é que eles se amaram e foram felizes na mais alta potência e loucura. E a morte manteve esse amor no auge.
Mas para que o amor se perpetue, o luto nem sempre é a solução. Antes que o amor entre em estado de óbito é necessário mantê-lo vivo. E essa é parte mais difícil.
Eu aposto que Romeu e Julieta não seriam os mesmos se tivessem se casado…