Não concordo que muitos recebam a alcunha de “rei” por causa da sua suposta notoriedade profissional ou artística. Considero-a equivocada, indevida na maior parte das vezes. O rei dos parafusos. O rei das empadinhas de frango-com-catupiri. O rei dos assaltos a bancos. O rei das cirurgias plásticas. E por aí vai. Roberto Carlos é, sem dúvida, o cantor mais popular e querido do Brasil em todos os tempos. Irrefutável. Não há como negar. Confesso que não o ouço, senão por acidente. Canto e toco algumas de suas velhas canções ao violão, pois sei que muitas pessoas (a maioria?) gostam, e me sinto feliz em agradar a audiência quando o assunto é fazer um sonzinho informal e animar convescotes. Quando se está numa roda de viola, exige-se do tocador muito desprendimento, respeito às diferenças de estilo, paciência, boa vontade e tolerância musical. O timbre de voz do Roberto não me agrada. Considero a maior parte do seu repertório entediante, repetitiva e melosa ao extremo. Não posso negar, contudo, que eu curta uma dúzia delas, como “Detalhes” e “Quero que vá tudo pro inferno”. Quem sou eu para falar assim do Rei Roberto Carlos? Um reles ouvinte que tem opinião própria. Um sujeito que ama música, mas, simplesmente, não aprecia o repertório do Rei. Sim, ele merece a majestade. Ocorre que não suporto tanto romantismo respingando no tapete da sala. Sei que isso é apenas uma questão de preferência ou da falta de um coração pulsando dentro do peito, tanto assim que me dispus, com todo carinho e esmero, a compilar, dentre os leitores da notável Revista Bula, quais seriam as dez melhores canções de Roberto Carlos em todos os tempos. Como era de se esperar, a participação dos leitores foi massiva, prova inexorável da popularidade e do carisma de um artista que pouco me afeta musicalmente (Sinto muito por isso, chapas). A vida é assim. Não se consegue agradar a todos. Mas é fundamental reconhecer o valor das pessoas e suportar a diversidade, inclusive, as predileções musicais de cada um. Seguem as dez melhores do Roberto, de acordo com os leitores da Bula. Não consideramos neste rol as composições de terceiros que foram gravadas por ele. Portanto, foram sumariamente eliminadas da lista canções bonitas como “Outra vez”, “Como vai você” e “Falando sério”. Cabe ressaltar que todas levam a marca indelével de Roberto e Erasmo, parceiros desde os primórdios, uma versão brasileira da grife musical Lennon e McCartney, guardadas as devidas proporções. É preciso admitir que, em matéria de Roberto e Erasmo, o amor sempre vencerá no final. E não é que isso é uma coisa boa?
Cavalgada (1977)