Fizemos uma enquete com os leitores da Revista Bula para que eles escolhessem os dez melhores duetos da música internacional em todos dos tempos. Já deu pra perceber que temos fetiche por listas, né mesmo? Antes isso que a chatice de colecionar selos ou de fazer sexo só para cumprir tabela. Chatos de galocha vão perguntar por que não prestigiamos o produto nacional e fazemos uma lista tupiniquim, com duetos da MPB. Já fizemos isso, desagradáveis criaturas. Confiram como foi em Os 10 melhores duetos da MPB em todos os tempos e parem de atazanar.
Houve uma avalanche de canções memoráveis, muitas delas remanescentes dos “bolachões” (discos de vinil), arrancadas do fundo do baú. Então, tivemos que estender o escore para as 15 melhores, a fim de não deixar fora da relação algumas preciosidades. Notem que todas as canções são cantadas na língua inglesa. Possivelmente, isso será um pecado, consequência natural da pífia divulgação dos repertórios cantados noutros idiomas pelas rádios brasileiras ao longo do tempo. Com o advento das mídias digitais (e a globalização de relevâncias e irrelevâncias), pode ser que este panorama se altere e passemos a escutar, por exemplo, baladas coreanas ou o funk nepalês. Enquanto isso não acontece, vamos conferir, de acordo com o gosto dos leitores da Revista Bula, quais são os 15 melhores duetos da música internacional em todos os tempos. Se você é fanático por rock, saia correndo daqui. Não foi citado um roquezinho sequer.
The sound of silence — Simon e Garfunkel (1964)
Creio que esta seja a canção mais famosa da dupla Simon & Garfunkel. Tinham vozes tão suaves e afinadas que faziam o som do silêncio parecer fanfarra.
Don’t go breaking my heart — Elton John e Kiki Dee (1976)
Essa é para ouvir e dançar com o seu amor. Estou vendendo um conselho, pague quando puder: faça tudo o que estiver ao seu alcance para não quebrar o coração de alguém. Dói à beça.
The closer I get to you — Roberta Flack e Donny Hathaway (1978)
Lembro-me de dançar isso aos 13 anos de idade, revezando-me nos braços de três irmãs cuiabanas que moravam num barracão, nos fundos lá de casa. Charmoso e conquistador desde os primórdios?! Eu?! Não me façam rir. Naquela época eu só pensava em jogar bola na rua com os amigos. Devo ter sido uma decepção inesquecível (quiçá, uma experiência traumática) àquela trinca de morenas a sopitarem estrogênio pelos poros.
You are the one that I want — Olivia Newton-John e John Travolta (1978)
O filme “Grease” fez um sucesso danado entre os adolescentes, ao final da decadente década de 1970. Olivia e John faziam um belo par romântico que todos queriam imitar. Bons tempos aqueles em que tive cabelo e o besuntava com a mesma brilhantina do personagem de Travolta.
Guilty — Barbra Streisand e Barry Gibb (1980)
Não tenho culpa das baladas românticas prevalecerem nesta compilação. Não me ofendam. Românticos são vocês. Eu, inclusive, penso que o amor está noir.
Endless love — Lionel Richie e Diana Ross (1981)
Sei que pode parecer grosseiro e desnecessário da minha parte (e é), por isso mesmo eu lhes digo que este sucesso da música romântica gravado por Richie (não o nosso Ritchie, aquele do “abajur cor de carne”, que quase morreu ao comer a “Menina Veneno”), ex-vocalista do The Commodores e Diana Ross encabeçará qualquer lista dos chamados hits mela-calcinha que se faça no universo. Antes de passar para a próxima, respondam-me o seguinte: existe amor eterno, meninas?
Perhaps love — John Denver e Placido Domingo (1981)
Não era por menos que, nas minhas contas, o John Denver andava sumido. Pesquisei no miraculoso Google e descobri que o cantor da retumbante “Sunshine on my shoulder” morreu há cerca de 20 anos. Placido Domingo não. Placido Domingo continua na ativa, encantando a muitos com o seu vozeirão, disseminando música de qualidade pelo planeta. Não tem perhaps. Isso é amor.
The girl is mine — Paul McCartney e Michael Jackson (1982)
Na letra deste incrível canção dos anos 1980, os estelares Macca e MJ disputam o amor de uma garota. Na vida real, após produzirem música juntos, acabaram se desentendo pra valer, por conta do espólio dos Beatles. Além disso, pelo que se sabe, se é que alguém tem alguma coisa a ver com isso, mulheres não eram o forte de MJ.
We’ve got tonight — Kenny Rogers e Sheena Easton (1983)
Não espalhem, mas, a letra de “We’ve got tonight” cairia como uma luva numa balada sertaneja. Não gosto de música sertaneja, nunca gostei de Kenny Rogers e não sei quem é Sheena Easton. Sim, vocês têm duas alternativas: crucifiquem-me ou me chamem de burro.
Easy lover — Phil Collins e Philip Bailey (1984)
“Ela é uma amante fácil. Ela vai roubar seu coração e você nem vai sentir.” Fico feliz que “Easy lover” tenha entrado na lista. Adoro-a. O ex-vocalista da banda Genesis e Bailey descrevem uma mulher fatal, como tantas a circularem por aí, belas, furtivas, alegres e sedutoras, prestes a decapitar os homens ou arrancar seus corações. Que atrocidade. Isso não pode ser amor.
How can I go on — Freddie Mercury e Montserrat Caballé (1988)
Confesso que este foi o único dueto que não gostei na lista. Não curto ópera, canto lírico, coisas assim. Deve ser porque sou estúpido, ignorante, concordo com vocês. Freddie gostava. Muito. Tanto que gravou com Montserrat Caballé e emplacaram um sucesso duradouro.
Unforgettable — Nat King Cole e Natalie Cole (1992)
Nunca me esqueço das imitações que papai fazia de Nat King Cole. Empostava a voz e rasgava um “cachito cachito cachito mio” num portunhol deplorável que ecoava pela casa. Em 1992, valendo-se de recursos tecnológicos que não sei explicar, Natalie Cole fez um dueto com o fantasma do pai, cravando na história da música americana um sucesso que eu diria… inesquecível.
All around the world — Barry White and Lisa Stansfield (1992)
Percebam só o meu ridículo: eu sentia ciúmes de Barry White. Acontece que, nas minhas fantasias de adolescente (se eu demorasse meia hora a mais para nascer, teria nascido mulher, um escândalo), eu pensava que, se tivesse a voz gutural do Barry White, conquistaria qualquer mulher do mundo. Embora eu quisesse (e muito), Deus não quis assim. Continuei com a minha voz chinfrim, um ícone de mim mesmo, nos chuveiros lá de casa. Em 1992, Barry emplacou sucesso com a bela e talentosa Lisa Stansfield. Será que ele pegou? Eu, volúvel com sempre, pegaria.
Time to say goodbye — Andrea Bocelli e Sarah Brigthman (1995)
É quase hora de dizer adeus. A lista se aproxima do fim. Estou melhorando, refinando o meu gosto musical. As óperas que me aguardem. Sentadas, por favor.
Lucky — Jason Mraz e Colbie Caillat (2009)
Acho que é uma sorte incrível ouvir música que preste na atualidade. Notem que esta é a canção mais recente que entrou na lista da Bula. Data de 2009. Lá se vão sete anos. A produção musical parece descartável e pior a cada dia. Ressaltando que esta seleção não foi feita por mim, mas, pelos nossos leitores contumazes. A lista soa velha, é fato. Mas tem um bom gosto que eu vou lhes contar.
Eberth Franco Vêncio, médico e escritor, 59 anos. Escreve para a Revista Bula há 15 anos. Tem vários livros publicados, sendo o mais recente Bipolar, uma antologia de contos e crônicas.