Durante minha infância e adolescência, quando chegava a época do final de ano, meus irmãos e eu ficávamos eufóricos à espera dos primos. Foram várias as vezes em que nos sentamos, durante horas, na garagem de casa contando os carros que passavam na rua. Nossa contagem só terminava quando o carro do nosso tio estacionava.
Alguns dos primos, víamos com certa frequência. Porém outros moravam longe. E, naquele tempo sem e-mail ou aplicativos, a comunicação entre nós era feita pelas cartas que escrevíamos e por telefonemas nos dias de nossos aniversários. Assim, quando se aproximavam as férias escolares (ou seja, quando todos os primos estariam juntos), uma mistura de ansiedade, alegria e saudade começava a despertar na gente.
Tenho família grande. Meus primos estão espalhados pelo país, de norte a sul. Meu pai tem três irmãos e minha mãe, nove. No total, são 33 primos (fora os filhos dos primos!). Dia desses foi aniversário da minha prima que mora a mais de 2.500 km de distância de mim. Ela fez uma festa, mas não pude ir. Então, gravei-lhe uma mensagem de parabéns. Sua resposta também veio em uma mensagem de voz: “queria muito que você e todas as minhas primas estivessem aqui, mas entendo que é muito longe; mas acho que a gente tem que se programar um pouco mais, e com seriedade, para se encontrar… A gente se vê muito pouco e eu sinto muita falta de vocês”.
Fiquei pensando nisso. Então me lembrei da expectativa boa que era a espera da chegada das minhas primas e dos meus primos. Lembrei-me das férias na casa de nossos avós. A vovó ficava louca da vida quando nos trancávamos no quarto para brincar de “gato mia”, e o vovô dava uns trocados pra gente comprar balas no bar da esquina.
Outras lembranças chegaram junto: as partidas de buraco e os campeonatos de truco, as pescarias no rancho do tio, as voltas de bicicleta pelo bairro, os passeios na pracinha para comer churros, as viagens à praia, os jogos de béti no meio da rua, as brigas e as pazes, os colchões espalhados pelo chão da sala, as conversas de madrugada, as rodas de violão e as músicas que cantávamos.
Minha prima tem razão, precisamos nos encontrar mais vezes. Por mais que tenhamos contato quase que diário nos grupos de família do WhatsApp, nada se compara aos abraços e às risadas, aos churrascos e às festas que fazemos quando estamos juntos.
Primo-irmão. O próprio nome já diz: primo é quase que um irmão da gente. E eles são os primeiros amigos que nos foram apresentados. Foi com eles que aprendemos a dirigir um automóvel. Foi com eles (junto com algum tio jovem e maluco) que nos fantasiamos para ir a alguma festa ou show em estádio de futebol. Foi com eles que pulamos vários carnavais e tomamos o primeiro porre de cerveja.
Mesmo que hoje esses primos se reúnam com uma frequência bem menor (cada um tem sua rotina, seus compromissos e sua família), quando eles se encontram é como se o tempo não tivesse passado. É como se as férias escolares tivessem sido ontem! Pois a amizade entre primos carrega uma história que o tempo e a distância não conseguem apagar.