Outro dia, numa sessão de cinema lotada, enquanto estava na fila para comprar pipoca junto às outras pessoas que também esperavam, a mulher à minha frente começou a gritar com o atendente do balcão. Ela estava histérica e reclamava sobre a demora no atendimento. Quando chegou a minha vez, aproximei-me do balcão e percebi que o atendente, um moço jovem, tinha ficado chateado. Ele trabalhava sem parar. Anotava os pedidos, pegava pipocas e refrigerantes, recebia o pagamento e devolvia o troco. Senti pena dele. Senti pena daquela mulher. Senti pena de todos nós.
Já reparou como vivemos apressados? Parece que não temos mais tempo para nada. Também somos efêmeros, pois o novo se torna velho no dia seguinte. O consumismo está em todas as vitrines: queremos o carro do ano, a bolsa da moda e o celular do futuro. Para consumir mais, tornamo-nos competitivos. Valorizamos o sucesso acima de tudo. E não sabemos mais lidar com o fracasso.
No meio disso tudo, há quem tenha perdido o melhor amigo e há quem tenha visto o amor da sua vida partir. Tem gente que sente falta do pai, outros sentem saudade do filho. Tem choro calado, esperança morta e dias escuros. A cabeça está cheia de tanto barulho: “pagar as contas”, “buscar as crianças”, “terminar o relatório”, “engordei mais dois quilos”, “meu chefe é um saco”, “queria sumir”, “quero chorar”.
Então, aprendemos a camuflar nossos sentimentos nos dias monótonos. Ignoramos a dor alheia. Perdemos o respeito ao próximo. E, de alguma forma, a gente sobrevive — nem que seja devorando a nós mesmos.
Na história que contei, era evidente que aquela mulher sofria por alguma coisa, pois o seu sofrimento se transformou em ira. É que a verdade não é fácil: somos nós os responsáveis por nossas tragédias pessoais. E mesmo que seja chato esperar na fila, não se justifica aquela grosseria com o moço que fazia honestamente o seu trabalho.
Quando me aproximei do balcão, o olhar vago e derrotado do atendente causou algo dentro de mim. Então, junto com o pedido que fiz, entreguei a ele o meu sorriso.
Sentada na poltrona do cinema, momentos antes de iniciar o filme, lembrei-me de um fato ocorrido mais cedo naquele dia. Eu dirigia apressada no trânsito caótico do horário do rush. Estava atrasada para um compromisso e preocupada com minha gata que estava doente. Também carregava mais alguns outros pensamentos na minha cabeça barulhenta. Quando o sinal fechou, veio um senhor querendo vender balas na minha janela. Eu disse que não queria, obrigada. Ele sorriu e me disse: “vai com Deus, minha filha”.
Foi o sorriso que salvou o meu dia. Porque, quando sorrimos, acalmamos as dores do mundo.