Em cada canto do mundo, em cada peito, um coração partido. Isso sempre acaba em música ou poesia, jamais em pizza. Por exemplo, no jardim de Versailles, o cravo brigou com a rosa, e aquela coisa toda. O resto da história vocês conhecem: o cravo ficou ferido; a rosa, despedaçada. Numa tourada em Madrid, uma madrilena de tetas monumentais mandou que eu fosse pastar, então, eu fui, sem conseguir arrastá-la para um banho refrescante na Fontana di Trevi, em Roma. Enquanto eu pastava triste por uma savana africana, avistei uma tigresa de unhas negras, de penteado bacana, que calçava Havaianas para pisar o coração de um homem branco de medo. O desamor afeta-nos a todos, sem qualquer preconceito.
No alto do Himalaia, o ar rarefeito fez com que um sujeito da mesma laia variasse, perdesse os sentidos quando buscava um novo sentido para a vida, depois de ser informado que a sua amada morrera de tanto gozar nos braços de outro alguém, ao nível do mar. E por falar em amar, um pescador de marlins azuis atirou n’água uma isca marrom, feita com tripas de coração, mas, ele sim acabou fisgado, arpoado pela flecha de um cupido que pescava homens no oceano. Entra ano, sai ano, alguém sempre se encanta e se estrepa com os cantos de uma sereia. Foi encontrado morto de amor, com a tanga cheia de areia, numa praia em Ibiza.
Não importa a paisagem. Tristeza não carimba passaporte. No Japão, no Jalapão, na República do Gabão, tanto faz, há sempre algum sentimento amável escorrendo dentro de veias tortas até eclodir um coração partido. Nos Estados Unidos, o índice de separados não para de crescer. A intolerância racial também cresce, mas, isso não é assunto pra agora, isso é outro dilema.
Na Cordilheira dos Andes, uma ginasta chilena especializada em polichinelos e sexo com estranhos (leia-se “esquisitos”), estilo “corpão de avião” (é o que os homens sempre dizem) tombou caidinha por mim (sim, sou estranho). As buscas por afetos escondidos nos destroços da cama (e outros troços inexplicáveis) começaram logo às primeiras horas do dia, durante o desjejum, num aconchegante quarto de hotel. Famintos de tesão, comemos as carnes um do outro, feito pastel, até que nos sentíssemos saciados o bastante para vestir a roupa que estava sobre a estante e dar um beijo de “Até qualquer dia” com gosto de fel.
Fazer o quê? Encontros e desencontros são coisas que acontecem, vocês sabem. Ou vão me dizer que são bem amados todo santo dia? O que vale é a intenção. Foi pensando assim que, na Alemanha, um neonazista foi atirado numa piscina de banha pelos comparsas embriagados durante uma Oktoberfest, após descobrirem que o nórdico fascista se apaixonara pelo penne carbonara que um italiano naturalizado terráqueo (o chef napolitano — disseram — não era desse mundo) cozinhara para ele.
Na Rússia, na Prússia, na Bielorrússia, até nas orações de alcova da Irmã Lúcia, tem sempre alguém buscando ser feliz com a ajuda de terceiros. Aquela história de se apaixonar, de se unir a alguém, de acasalar, quem sabe, produzir filhos e viver feliz para sempre, não sei se isso é amor ou se é instinto de sobrevivência da espécie humana. De novo, a velha ladainha bíblica de crescermos e nos multiplicarmos, sabem como é?
A infelicidade não para. Os deslizes, da mesma forma, não cessam por aqui. Assim como a informação, a inflamação e o herpes, a desilusão amorosa está globalizada, é uma praga tão cosmopolita quanto a fé. Como remendar um coração partido? Não sei dizer. Nem ouvindo uma velha balada dos Bee Gees, eu saberia lhes responder. Quem são os Bee Gees? Ah… Esquece.