A existência humana é um paradoxo. É longa suficiente para ouvir várias vezes as dezoito horas de música magistral do ciclo operístico “O Anel de Nibelungos”, de Wagner, mas curta demais para ler inteira a série de livros “Guerra dos Tronos”. Portanto, para te ajudar a não desperdiçar sua existência, a Revista Bula apresenta uma lista de obras literárias para morrer antes de ler. Afinal, a vida e a paciência são curtas.
Antes dos senhores acenderem suas tochas e pegaram seus ancinhos relaxem um minuto para uma declaração. Eu sei que o nome da saga é “Crônicas de Gelo e Fogo”. Só escrevi “Guerra dos Tronos” para quem não participa da seita entender do que estamos tratando. Agora, vejamos: cada livro deve ter umas 15 mil páginas; todos os 50 volumes somam aproximadamente 95 mil páginas ao quadrado. Resultado, funil de vida por funil de vida, melhor assistir a série.
Joyce sugeriu que usemos toda nossa pobre vidinha mortal na tentativa de entender “Ulisses” em sua completude. O mestre Otto Maria Carpeaux achou melhor só gastar alguns meses e usar o resto do tempo para fazer outras coisas. Boa sugestão.Mas não há garantias de que esse “resto do tempo” seja suficiente para entender — ou mesmo arranhar a superfície de — “Finnegans Wake”. A leitura desse romance rizoma será sempre um “trabalho em progresso”. Só para os fortes e monges reclusos.
Treino é treino, jogo é jogo. Nesse caso, o jogo é um final de Copa do Mundo: o romance catedral “Em Busca do Tempo Perdido”.
Não deve ter sido o verdadeiro Borges quem escreveu esse livro. Acho que foi o Outro, ao mesmo tempo em que era perseguido por um tigre dentro de uma labiríntica biblioteca de espelhos.
Li “O Perfume” e fiquei fascinado. Li “A Pomba” e pensei: interessante, muito interessante. Já “A História do Senhor Sommer” é inodoro e não sabe voar.
A prova de que J. J. Veiga é mesmo um escritor goiano.
Nem o Jorge amava esse livro.
Antes de ser adaptado (melhorado) para o cinema por Stanley Kubrick, esse romance era mera literatura de aeroporto. Depois do filme, e das reclamações de King de que seu “material foi estragado”, a galera nerd começou a considerá-lo uma obra-prima, alta literatura. De minha parte só posso afirmar que preferia ter lido umas 500 páginas seguidas de “muito trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão, muito trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão, muito trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão, muito trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão, muito trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão”.
Sherlock Holmes descobriu que o homem que matou Getúlio Vargas dentro da Academia Brasileira de Letras não acha que esse romance seja obesofobia, mas também não é dos melhores. Elementar, meu caro Xanjô.
Alguns cínicos defendem que o mestre Saramago só escreveu livros ruins depois que ganhou o Prêmio Nobel. Isso é uma grande mentira. “Jangada de Pedra” prova que ele já escrevia livros ruins antes do Nobel. Temos aqui um exemplo lamentável de uma ótima ideia em uma péssima execução. Esse romance é mais perdido do que a Península Ibérica em sua mirabolante navegação pelo Oceano Atlântico.
Dizem que o Tancredo estava lendo nas vésperas da posse.
Nesse caso só morra sem ler se você for um aiatolá com poder de condenar à morte o autor.
Muitas pessoas acham que Chico Buarque é um escritor ruim. Maldade. O fato é que seus atuais romances mostram que ele evoluiu bastante desde a novela pecuária “Fazenda Modelo”. Isso foi um elogio?
Carta foi o criador da “Veja”. Carta faz questão de lembrar esse fato a todo o momento. Carta odeia a “Veja”. Será um caso de síndrome de Frankenstein editorial? O que o Brasil tem a ver com isso? O país, não o romance. Para descobrir, não leia esse “O Brasil”, prefira o hilário “Contra o Brasil”, de Diogo Mainardi, que não criou a “Veja”, nem faz questão de relembrar que foi colunista lá. Qualquer dúvida me mande uma cartinha.
Sonho por sonho, prefira ler “Joana a Contragosto”, de Marcelo Mirisola, que é muito melhor e, mais do que isso: é literatura com alma, sêmen, sangue suor e lágrimas.
Nem o romantismo psicológico dos primeiros livros nem a ironia sofisticada da fase realista. Esse terceiro romance de Machado de Assis é um folhetim típico. Machado nele.
Se tivesse que dar uma nota para esse livro, a respectiva nota está sugerida no título da obra.
Que tipo de pedante colocaria um título em latim em pleno século 21? Precisava de 400 páginas para contar essa história doidivanas sobre uma tribo urbana que se veste de vampiro em guerra contra os fãs do seriado “Star Trek” e ainda enfiar no meio o roubo da Mona Lisa? O autor por acaso tomou um coquetel de craque, peiote, LSD, Fanta Uva e Smirnoff Ice? O que ele pensa que é: um gênio visionário incompreendido? Um Arturo Bandini? Deve estar de sacanagem? Bateu a cabeça e acha que é o Andy Kaufman? E esse nome misturando jogador de futebol e rei francês? Deve ser pseudônimo, só pode. Tipos como esse só tem um destino: ficar tentando aparecer falando mal dos livros dos outros na internet.
Essa postagem é sobre livros para morrer antes de ler? Se a lenda diz que quem termina de ler “As 1001 Noites” morre, talvez não ler seja o segredo da imortalidade. Faz todo sentido. Será esse o segredo dos maçons?