‘Aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo’

‘Aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo’

Sinto uma ternura especial pelos idosos. Principalmente os mais velhinhos, que carregam em suas almas uma vida inteira de histórias, lutas e saudades. A velhice tem um encanto que muitas vezes é ignorado por aqueles que não querem — ou não sabem — enxergar. Segundo Rubem Alves, a velhice é como o pôr do sol: “a beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa — talvez solitária. No crepúsculo, tomamos consciência do tempo”.

Certa vez, na correria normal do dia a dia, encontrei um senhor com mais de 80 anos que carregava um livro que me prendeu a atenção. Ele estava lendo “Uma Breve História Do Tempo”, de Stephen Hawking. Quando eu quis saber o que ele estava achando do livro, sorriu para mim.

Ao me lançar um olhar de entusiasmo e curiosidade, expliquei que tinha comprado o livro havia alguns meses, mas que tinha parado de ler logo nos primeiros capítulos, pois achara a leitura difícil; e, também, por falta de tempo.

Então ele me disse que se alguém lhe perguntasse qual o presente mais precioso que ele gostaria de ganhar na vida, esse presente seria “tempo”. Animado, falou que era uma leitura complexa, mas interessante, e, como tinha formação em Física, algumas teorias conseguia compreender.

Entretanto, o nobre senhor estava curioso sobre como entender se existe mesmo a hipotética quinta dimensão. E, também, explanou mais algumas coisas sobre o Universo, os buracos de minhoca e a viagem no tempo.

Mesmo sem entender metade das coisas que ele falava alegremente, naquele instante, o meu cérebro sofreu uma espécie de “Big Bang” de ideias: o início da expansão de novos e velhos pensamentos. Atormentada por teorias que pouco entendia, entendi que é preciso viver cada momento com mais intensidade e entusiasmo.

Quantas vezes você deixou de fazer algo por falta de tempo? Como os exercícios físicos que o seu médico tanto lhe recomenda? Como aquela ligação a um amigo de quem você está com saudade? Como a viagem em família tantas vezes prometida?

Deixar de fazer algo que você gosta — ou precisa — por falta de tempo é a mesma coisa que se esconder em buracos negros dentro de si mesmo: você deixa de existir. Torna-se mecânico nos sentimentos. Porém, uma hora, tardiamente, perceberá que não há mais como voltar atrás.

Quem enxerga o tempo como um benefício, aprende a valorizar o que realmente importa: é preciso escolher. É preciso viver!

Aquele senhor sabe que a morte lhe está chegando; suas saudades anoitecem o tempo que lhe resta. Ele tornou-se sábio ao degustar cada momento com uma alegria única, mesmo sentindo com sincera tristeza o crepúsculo que anuncia a chegada da sua noite alta.

Todos nós iremos envelhecer. Mas a vida é muito mais que uma coleção de tique-taque. Ela é um ciclo de tempo: de começo, meio e fim. Até que esse ciclo se encerre, não tenha medo de dizer o que for preciso; não deixe de amar por receio de sofrer; e não fique parado por não saber aonde ir — assim me aconselhou o senhor octogenário.

Rebeca Bedone

é médica.