Há livro que nos diverte. Há livro que nos ensina. Há livro que nos faz lembrar e há livro que nos faz esquecer de tudo. Há livro que nos tensiona, há livro que nos relaxa. Há livro que nos leva ao infinito, há livro que nos deixa de quatro no chão. Há livro que nos amplia e a há livro que nos coloca em nossa verdadeira dimensão. O livro acompanha você na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na fila do consultório e na viagem de avião, no tumulto da rua e no aconchego do lar, na fartura de amor e na indigência afetiva. O livro nos faz sonhar ou cair na real, nos instiga a imaginação sem o enquadramento forçado de imagens visuais e se liga direto ao coração sem precisar de wi-fi ou bluetooth. O livro não é solução de todos os problemas nem a panaceia de todos os males. Mas não há problema que não amenize depois de uma boa leitura.
Por essas e outras, o livro é o melhor amigo do homem. Obviamente que há controvérsias. A sabedoria popular diz que é o cachorro. Para o poeta Vinicius de Moraes, o melhor amigo do homem é o uísque. Uísque, por assim dizer, seria uma espécie de cachorro engarrafado. Mas eu lhes afirmo com minha convicção: o livro é, sem dúvidas, o melhor amigo do homem.
Quem nunca se perguntou que livro levaria para uma ilha deserta, certamente negligenciou um dos exercícios mais lúdico de seu sistema cognitivo. Porque teria de ser um livro que suprisse o gigantesco espectro dos desejos e das necessidades humanas. Talvez um livro mágico, digno de Jorge Luis Borges. No entanto, apenas imaginado e nunca escrito, nem resenhado por ele.
Mas trazendo o assunto ao rés do chão, quem é que na vida não passou pela situação de se achar sem remédio e viu tudo clarear após a leitura de um livro, que às vezes nem botava muita fé? Tem aquele livro que você ganhou há 20 anos e nunca leu. Por alguma razão que a própria razão não explica, você finalmente leu na semana passada e, se for pessimista, ficou com a sensação de ter perdido 20 anos na vida. Se for otimista, ficou com o sentimento de que você andou em busca do tempo perdido. E achou.
Tem aquele livro que você começa a ler enquanto espera o elevador e chega em casa e não solta mais. Atravessa a noite numa leitura ferrada, numa obsessão medonha. Na manhã seguinte, ainda aceso feito uma chama de maçarico, mal tem tempo de ligar para o trabalho e comunicar a ausência, para novamente retornar ao livro, para ler até o fim, mas desejando que o livro não termine nunca. Tem aquele livro que você toma emprestado e se apega tanto a ele que depois de lido não tem coragem de devolver. Ainda que esta atitude seja completamente contrária a seus princípios.
Tem aquele que você começa e acha maçante e idiota e joga pra lá, no fundo da estante. Passa anos sem pegar novamente. Mas um dia você, por acaso pega o livro e começa de novo e acha genial. E descobre com tristeza (ou alegria) que maçante e idiota não era outro senão você.
Tem aquele livro que você gosta tanto, mas tanto, que compra toda vez que sai uma edição ou uma tradução nova e cada vez que lê parece que ele está ainda melhor. Aliás, toda vez compra dois: um para riscar enquanto lê e outro para guardar intacto feito um manancial fechado. Tem o livro que alguém lhe tomou emprestado, não devolveu e você não lembra quem foi. Isso lhe traz angústia durante o dia e pesadelo durante a noite. O pior de tudo é que o livro está fora de catálogo e o sebo de sua confiança ainda não deu conta de lhe arranjar um exemplar.
O livro nos traz experiências que numa vida só não seria possível experimentar. Nos traz os conhecimentos acumulados pela humanidade. Sem eles cada geração teria que reinventar a roda ou reescrever a tabela periódica. Quem lê com regularidade enxerga mais distante e mais profundo e tem a chance de encontrar as melhores soluções para os problemas que a vida nos apresenta. Quem não aprendeu a gostar de livros e de leitura desconhece uma das dimensões mais exuberantes da vida. Pode até dizer que não sente falta alguma da leitura. Porque ninguém sente falta daquilo que não conhece. Mas é como ter os pulmões meio lacrados por um mal congênito e desconhecer o que é respirar a plenos pulmões. E assim parece que tudo está normal, mesmo respirando pela metade.
Quem gosta de livro, sabe que conteúdo e forma são tudo de bom. Mas aprecia até coisas que não estão no conteúdo nem na estética literária. O formato, a textura e a cor do papel, o cheiro, o som da página virando, a fonte das letras, a mancha da página, o tipo de capitulação e tudo o mais. E quando a leitura é feita em livro eletrônico, muitas dessas sensações são imaginadas, emuladas pelos sentidos, como a textura, a viração da página e o cheiro do papel.
Finalmente, quem gosta de livro sabe que a leitura o torna uma pessoa mais bem posicionada, especial, diferente, com requintes intelectuais que de outro modo jamais poderia alcançar. Adquire diversos pontos de vista consistentes sobre diversas coisas importantes no mundo. Quaisquer que sejam as suas atividades. A leitura como prática de vida torna a pessoa tão sábia e especial que ela aprende até se fazer passar por uma pessoa comum, modesta e semelhante a qualquer outra.