Não há dúvidas que a internet e a tecnologia melhoraram as nossas vidas. Se antes era preciso ir a algum lugar desconhecido segurando um mapa de papel, hoje basta ouvir as indicações da “moça” do GPS. Se antes precisávamos ir ao banco para fazer uma transação, hoje resolvemos tudo pelo celular. Temos aplicativos que nos ajudam emagrecer, que fazem o bebê dormir e que nos lembram de tomar água.
Também temos mídias sociais que nos conectam uns aos outros. Resolvemos rapidamente problemas relacionados ao trabalho ou faculdade. Mantemos contato com amigos e parentes distantes. Podemos acompanhar o crescimento quase que diário de nossos netos e sobrinhos. Fazemos novos amigos que possuem interesses em comum.
Realmente não há dúvidas que a internet e a tecnologia melhoraram as nossas vidas. Mas elas também pioraram. Quanto mais utilizamos os avanços da informática e nos habituamos ao processamento rápido da velocidade, mais nos robotizamos. Tornamo-nos as próprias máquinas. E os relacionamentos humanos são os que mais têm sofrido com essa transformação, principalmente as relações amorosas quando estão em seu início.
Outro dia, eu estava sentada em um banco do Shopping enquanto esperava uma pessoa. Involuntariamente acabei ouvindo a conversa de duas amigas sentadas ao meu lado. A menina de mais ou menos 18 anos estava aparentemente muito ansiosa porque o garoto de quem ela falava estava ‘online’ no WhatsApp e ainda não tinha respondido a sua mensagem. Ela se queixava que já fazia uns 20 minutos que o escrevera e que ele estava demorando muito para responder. Ainda completou “eu sempre vejo ele ‘online’, com quem será que ele fica conversando?”.
Será que sou somente eu que tenho vontade de voltar a viver nos anos 80 e 90 de vez em quando? Naquela época de telefone sem internet quando não precisávamos enviar “Bom Dia” e “Boa Noite” todos os dias para o nosso paquera? E que não precisávamos — e nem queríamos — investigar os passos virtuais de outra pessoa 24 horas por dia?
Ora, se estamos perdendo a privacidade a culpa é toda nossa. E, ao mesmo tempo, estamos nos acovardando. É muito mais fácil enviar uma mensagem para saber como foi o dia do outro. Porém, isso nos distancia mais do que a distância entre duas telas. Tornamo-nos almas que não se ouvem e olhos que não se veem.
Tem gente que inicia um namoro pela internet e realmente acaba dando certo depois. Mas viver somente dentro do ciberespaço para encontrar alguém pode ser ilusório. Parece que a internet está fazendo as pessoas perderem suas emoções, e, se elas não aprendem a conhecer a si próprias, como irão se relacionar profundamente com alguém?
Essa perseguição cibernética está nos deixando paranoicos e inseguros. Receber uma ligação deveria causar mais ansiedade do que ficar vigiando o que o outro está fazendo nas redes sociais. Palavras ao nosso ouvido deveriam valer mais do que “emotions” sorridentes. Guardar os sentimentos que queremos dizer pessoalmente nos torna mais corajosos do que digitá-los em uma tela.
Não consigo nem imaginar como serão os relacionamentos das crianças e adolescentes de hoje daqui alguns anos. É que eu nasci no século passado. Posso parecer velha demais para o meu tempo, mas não tenho mais paciência para cantadas superficiais nas redes sociais. Acho que tenho um instinto mais primitivo do que a era tecnológica.
É isso, Internet, eu te amo. Você facilita muito a minha vida. Mas, no meu coração, ainda sou eu que mando.