10 marchinhas de carnaval para cantar e ser preso

10 marchinhas de carnaval para cantar e ser preso

É um exagero. Ninguém vai preso por cantar marchinhas de carnaval com letras politicamente incorretas. Ora, nem pilhando a Petrobrás o sol nascerá quadrado para muitos. Debochar das diferenças — dizem os debochadores — faz parte dos costumes. Ser indiferente também. Há quem não mova uma palha pelo chamado mundo melhor. São os piores seres humanos que conheço.

Vocês sabem, o que tem de gente reclamando por aí que a vida tá uma porcaria, parece um mantra. Eu, por exemplo, tenho reincidência e não sou boa companhia nem para os mansos de coração que se reúnem em retiros espirituais. Por falar em bater em retirada, certa feita, benzeram-se com o sinal da cruz e solicitaram que eu, gentilmente, me retirasse do recinto, pois estava prejudicando sobremaneira os afazeres domésticos do espírito santo. Não fiquei magoado com aquela gente, nem com o espírito, muito menos com o santo, mas lamentei profundamente ter perdido o coffee-break. A mesa posta parecia apetitosa.

Não parece, mas a sociedade melhora a cada dia, no que diz respeito à organização, noções de cidadania, aplicação de direitos e deveres dos cidadãos. De vez em quando, fica-se com aquela desagradável sensação de que as coisas estariam degringolando, que o ser humano nunca foi tão deplorável em seu caráter. Não. Não somos vinho vinagrado. Não estamos piorando.

Já teve uma fase da vida em que eu não suportava o carnaval. Hoje em dia, sinto apenas ojeriza. Significa que melhorei, entendem? Não sou a ala das baianas, mas estou evoluindo. Aproveitando então a ociosidade, achei que teria a maior irrelevância — portanto, fiquei bem animadinho — compilar as 10 marchinhas mais preconceituosas e politicamente incorretas de todos os tempos, aquelas que estão e que sempre estiveram na ponta da língua dos foliões brasileiros.

Não pretendo construir um ensaio sócio-antropológico a respeito do desimportante tema. Não sei fazê-lo, não tenho interesse, e quase ninguém vai ler, pois a maioria vai sair pra se divertir nos blocos. Só quero matar o tempo, já que não posso matar meu semelhante. De novo, a história do vinho. É carnaval, todos têm lá as suas fantasias. A minha preferida é a do desmancha-prazeres. Se a proposta não lhe agrada, aproveita toda essa onda malemolente, ponha a tanga, e saia correndo atrás de um trio elétrico, pois, atrás dele só não vai quem já morreu. E quanto a mim? Estou mais vivo que a Inês.

Eberth Vêncio

É escritor e médico.