Houve um tempo em que você o procurou por todos os lugares. Olhava as mesas dos bares, percorria esteiras das academias, pesquisava em livrarias, ia a parques e parava em bancas de jornal. Observava atento a todos os detalhes, como detetive mesmo, à procura de todas as pistas que o levassem até ele. Até em viagens tentou conhecê-lo. Adivinhava o cheiro do seu perfume e imaginava uma dança ao luar ouvindo a música que escolhera para quando se encontrassem. Esperou por ele em todas as esquinas das suas saudades. Então se cansou de esperar e foi embora.
Dizem que o que é nosso está guardado. Ora, mas e se o amor estiver bem escondido, que mal teria em sair procurando-o por aí? Acontece que se cairmos nessa paranoia de procurar a todo custo pelo amor que ainda não teve o seu tempo de chegar, abandonamos a distração e a espontaneidade. E, enquanto procuramos lá fora o que muitas vezes está faltando aqui dentro, nos perdemos pelo caminho.
Por isso, você decidiu voltar para dentro de si. Parou de procurar lá fora porque se perdeu de tanto andar por aí. Sim, andava de carro sem rumo, sem saber aonde ir ou quem encontrar. Depois de horas dirigindo, voltava para casa e assistia à televisão sozinho outra vez.
E nesses dias o sol não veio aquecê-lo. Sabe aquele céu nublado com vento frio lá fora? Na vida também é assim. Acordamos e não queremos sair de nós mesmos, preferimos ficar sob a manta protetora da solidão. Mas acredite, nesse sono frio também podemos sonhar, os sonhos transformam tristeza em poesia! Já vivemos do jeito que dá, mas sem sonhos morremos de vez.
Estar só muitas vezes não é fácil. Mas a mesma solidão que dói é a mesma que nos empurra para frente, em pleno movimento. Já que você não tem outra opção, você se joga na vida. Explora seus limites, se arrisca a viajar sozinho, descobre que o mundo é muito maior que o seu mundinho interior e que fazer novas amizades alimenta a alma. Descobre que ser feliz é uma viagem que começa dentro da gente.
Porém, não é fácil. Não. Tem dias que seu barco se perderá nas marés revoltas da vida. Outros dias, a sua estrada estará cheia de buracos aparentemente intransponíveis. Numa noite, a lua não virá para iluminar o chão que você pisa. Mas calma que pra tudo tem um jeito.
Você se ajeita com a coragem que carrega no bolso, a sua única companheira em todas as suas viagens. Ela que o ajuda a subir montanhas, atravessa oceanos contigo e enfrenta suas tempestades até encontrar o arco-íris onde renascem os seus sonhos.
Sonhando seu lápis vai lhe guiando às colinas com as mais belas roseiras de letras perfumadas. Você reinventa suas saudades com pincéis de cores novas, dança nos seus acordes musicais e sente-se vivo ao inalar os temperos quando prepara a sua comida. Tem gente que sonha plantando as suas flores e regando o seu jardim, outros viajam em seus livros. Há um mundo de possibilidades, basta escolher qual caminho por onde começar, calçar aquele tênis de sola gasta e seguir em frente.
Quando você parou de procurar lá fora, achou a si mesmo aí dentro. Encontrou-se na sua canção, no seu desenho, no seu jardim e em seu poema; a sua vida! E agora está distraído.