A última entrevista de Vinicius de Moraes

A última entrevista de Vinicius de Moraes

O poeta e compositor morreu alguns meses depois de ter concedido a entrevista ao jornalista Narceu de Almeida Filho, em 1979

Quando o jornalista Narceu de Almeida Filho bateu este longo papo com Vinicius de Moraes, em sua casa, bem situada numa tranquila rua da Gávea, no Rio de Janeiro, não poderia imaginar que, no momento da edição da entrevista, o Poetinha já não existisse mais. Vinicius estava todo animado, layout novo, de cabelos cortados, barba raspada, vestido elegantemente e sem o seu famoso boné que o acompanhou durante muitos anos. Havia emagrecido vários quilos e abandonado temporariamente as excursões musicais para dedicar-se, novamente, à poesia. Poeta do amor, Vinicius estava ainda em lua-de-mel com sua mulher, Gilda, a quem conheceu na Europa, onde ela estudava. Entre pilhas de livros, discos, um violão, dois conjuntos de som e objetos de arte, ele falava de seu objetivo maior no momento — “fazer feliz essa moça” — e olhava, apaixonadamente, para a mulher sentada ao seu lado. A entrevista foi publicada no livro “As Entrevistas de Ele Ela”, editora Bloch.

Vinicius, você andou meio desaparecido, ultimamente, viajando muito. Como você está agora?

E agora você entra em férias para trabalhar?

Quais os livros?

Esses dois livros que você vai publicar serão, em termos de poesia, a sua palavra final?

Você tem algum método de trabalho permanente, periódico, ou escreve somente quando baixa a inspiração?

Você ficou famoso como poeta muito cedo, antes dos 20 anos, não foi?

O fato de ter ficado famoso muito cedo foi bom ou ruim para você?

Na época você recebeu bem essas críticas?

Até essa época você era bastante católico e místico, não?

Essa virada se manifestou em sua obra?

E quando você começou a fazer música?

Quando você foi exonerado do Itamarati, em 1968, houve alguma alegação específica?

Voltando à música: você teve parcerias históricas. Por que lá pelas tantas, a parceria acaba?

Com quais parceiros você acha que houve mais criatividade?

O que você acha das críticas que o Tinhorão faz à bossa-nova?

Você acha que a influência do jazz foi boa para a bossa-nova?

Depois da bossa-nova, o que houve de mais importante na música popular brasileira, em sua opinião?

E os baianos, Caetano e Gil?

E o Chico Buarque?

O que você acha desse debate que tem havido atualmente nos meios artísticos brasileiros, com a cobrança de definições políticas por parte de artistas pelas chamadas patrulhas ideológicas?

Como foi seu encontro com Deus e depois seu desencontro, seu desencanto?

Hoje você não tem mais qualquer preocupação com o problema de Deus ou de religião?

Você andou muito metido com candomblé na Bahia. Você acredita mesmo nisso?

E a morte?

Você nunca conseguiu, ou quis, viver sozinho, não?

Você vê muita diferença entre o Vinicius dos 18 anos e o Vinicius de hoje?

Você está satisfeito consigo mesmo?

Você se tornou mais exigente?

Qual era a visão que você tinha do Brasil quando começou a fazer poesia?

E hoje, como você vê o Brasil?

Que tipo de sociedade você gostaria que houvesse no Brasil?

Já falamos de seus casamentos com parceiros musicais. E com os seus casamentos de verdade, quantos foram?

Há quanto tempo?

Você diria que suas mulheres influenciaram sua obra?

Houve alguma que tivesse exercido uma influência maior sobre o nível de seu trabalho?

Seu casamento mais longo durou quanto tempo?

E o mais curto?

Você mantém boas relações de amizade com as ex-mulheres, ou é do gênero que rompe relações?

Com sua experiência, o que acha mais fácil: conquistar e casar-se com uma mulher, ou separar dela?

Como foi sua iniciação sexual? Poética, traumática, normal?

E correspondeu às suas expectativas?

E como foi aquela história de um amor fulminante que nasceu numa sala de museu, entre você e uma jovem loura que se viam pela primeira vez?

Quais os principais planos para o futuro?

Além desse plano principal, você tem outros?

Carlos Willian Leite

Jornalista.