É domingo e a família está toda reunida. A mãe serve o macarrão feito em casa. O filho mais velho conta animado sobre a sua última viagem e distribui bebida nos copos, o pai dá comida para o cão debaixo da mesa. O filho do meio mostra a filha dele recém-nascida que desperta sorrisos emocionados, mas a tia do bebê não vê. Ela não percebe toda esta cena, pois almoça teclando em seu celular.
Uma vez entrei num restaurante e reparei que na mesa ao lado tinha três pessoas e cada uma estava compenetrada em seu smartphone. Elas não conversavam entre si. Isso me lembrou a época em que era criança e meus pais levavam meus irmãos e eu para comermos pizza. Era uma farra, e como não havia toda essa engenhoca tecnológica de hoje, nossa diversão era mesmo conversar.
Numa viagem que fiz sozinha, entrei num pub e sentei-me ao balcão. Enquanto saboreava minha London Pride, peguei meu celular. Aconteceu que nem vi o tempo passar quando se passaram duas horas. Era o celular e eu até que acabou a bateria. Olhei para frente e tinha um moço olhando para mim. Há quanto tempo ele me olhava? Ele sorriu e eu sorri de volta, aí ele se levantou e foi embora. Agora penso em todas as pessoas que deixei de conhecer quando eu estava fazendo nada na internet.
Outro dia eu vi uma moça quase ser atropelada porque atravessou a rua sem sequer olhar para o lado. Seguiu digitando freneticamente como se carros e o mundo não existissem ao seu redor. Era como se ela estivesse dentro do seu próprio aparelho celular.
Hoje em dia o mundo todo tem pressa. Correria no trabalho, rotinas apertadas, as pessoas mal têm tempo para um hobby. Chegar em casa e telefonar para aquele amigo antigo que você está com saudade vai sendo sempre adiado. É mais fácil — e rápido —enviar um emoji.
Eu não sou contra a tecnologia digital. Muito pelo contrário, eu a adoro e uso muito. Mas a conectividade que felizmente nos aproximou é a mesma que parece afastar, emocionalmente, muita gente. E quanto mais nós não conseguimos mais viver sem essa rede de conexão — o que tem o seu lado muito positivo na facilitação da vida cotidiana, pois nunca foi tão rápido acessar uma conta bancária ou comprar uma passagem aérea —, mais pessoas começam a se sentir abarrotadas de superficialidade, surgem vontades de menos barulho e nostalgia pelos finais de semana em cabanas com lareira e sem sinal de internet.
As redes sociais são excelentes para colocar em contato os parentes e amigos que estão distantes. Acompanhar o filho do seu primo crescer pelo Facebook do outro lado do país é muito divertido. Não tem preço conversar com a sua melhor amiga, que hoje mora nos Estados Unidos, pelo Skype no meio do dia.
Mas essa internet que aproximou os que estão longe parece distanciar os que estão por perto. E sempre tem aquela pessoa que acabou de entrar na sua vida querendo te conhecer, mas conhecer profundamente, através de uma tela. Será que iremos nos acostumar a relacionamentos “touch screen”, essas novas relações cibernéticas que rolam agilmente em superfícies frias?
A onda agora é digitar o sentimento, é receber “bom dia” e “boa noite” via cosmos e abraçar o travesseiro. É olhar pra tela do seu telefone e ouvir em pensamento a voz que lhe escreve.
A conectividade virtual não deveria nos desconectar da realidade exterior. O controle de nossas vidas ainda está em nossas mãos. A tecnologia digital somente será útil se a vida real não for anulada. Por maior que seja a memória de uma máquina, nosso melhor banco de dados ainda são as coisas que vivemos e ficam dentro da gente.
Assim, agora eu salvo esse texto e fecho o laptop. Abro os braços para o fim de semana: vamos à vida! Cinema com pipoca, ficar à toa na piscina e sentar no bar com os amigos pra tomar uma cerveja.