É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

É agora que o jogo recomeça. E eu torço é por nós

Pronto. Acabou. Lá se foram as eleições que tanto chacoalharam os nossos ânimos. Terminou o embate, passou a pendenga. Já podemos guardar as armas, enrolar as bandeiras, recolher as unhas. Respirar fundo e seguir em frente. Venceu a vontade da maioria.

Esta foi, sem dúvida, as eleições presidenciais mais disputadas da história. E para além de qualquer preferência, a escolha de sair e celebrar ou sentar e reclamar é nossa. Eu acho, honestamente, que essa é a escolha mais importante que temos a fazer agora.

Basta dessa guerra, minha gente. Deixemos para trás nossas diferenças. Já é tempo, não? Já temos tantas, mas tantas distâncias! Há tantos buracos entre nós! Qual é o sentido em abrir novas trincheiras? Nossos votos valeram. Nosso direito de escolha prevaleceu e isso independe de quem você e eu escolhemos. Passou.

Com ou sem o nosso voto, com ou sem a nossa torcida, alguém venceu e alguém perdeu. É sempre assim. Em qualquer disputa, uns ganham e uns perdem. E alguém perdeu a eleição. Ponto! Mas perder e ganhar são conceitos relativos, né não? Aliás, não há derrota nenhuma em ter escolhido aquela figura que por acaso não venceu as eleições. Como também, sobretudo, não há vitória em simplesmente ter votado na pessoa que a maioria também preferiu. Porque ganhar ou perder é uma escolha diária!

Seremos nós tão românticos em botar fé que aceitar e seguir ou parar e reclamar são posturas que adotamos para a vida e que podem, sim, fazê-la melhor, muito melhor que uma simples disputa nas urnas?

Que venham agora os gênios nos acusar de bobocas e simplificar nosso discurso como mera utopia. Tudo bem. Não tem problema. Há os que creem no horóscopo, na previsão do tempo, na loteria. Eu acredito na utopia, na possibilidade, na poesia, no trabalho. Na dança ora agitada, ora serena do dia depois do outro. Acredito mesmo em nossas ações nas centenas de dias que ficam entre uma eleição e outra.

Eu torço é por nós. Nós! Eu, você, seu pai, sua mãe, nossos filhos, irmãos, parentes, amigos. Torço pelo tio da padaria que nos dá o troco em balas, pelos empregados e pelos patrões. Pelos artistas e intelectuais, operários e industriais. Pelos sozinhos e os acompanhados. Pelas almas gentis e esforçadas. Por quem vive do seu trabalho honesto. Eu torço por nós e acredito na gente.

Por isso, espero honestamente que a mudança que tanto se apregoou nesses meses, a renovação que tanto reivindicamos e as transformações com as quais tanto sonhamos não tenham de acontecer nas altas esferas do governo, mas aqui mesmo, aqui mesmo entre nós. Nós!

Como? Isso nós vamos descobrir juntos. É obra para um dia depois do outro. Tempo e trabalho. Por enquanto, eu tenho a impressão de que resgatar as amizades chamuscadas, as relações estremecidas no calor dos debates e das rusgas que até agorinha nos dividiram em lados opostos já é um começo. Vamos em frente. Eu estou torcendo por nós.

 

André J. Gomes

É professor e publicitário.