Os 10 mais tristes filmes da história do cinema (um guia básico para homens que precisam aprender a chorar)

Os 10 mais tristes filmes da história do cinema (um guia básico para homens que precisam aprender a chorar)

Fui treinado para não chorar. Pertenço à malfadada geração dos homens que nunca choram. Ao menos, não deveriam fazê-lo, nem que fosse sob a dor de uma palmada, ferramenta educacional embrutecedora dos nervos, recentemente banida das cartilhas familiares pelo governo brasileiro. Sou da triste leva dos inchoráveis. Em condições normais de temperatura e pressão, eu choro, em média, a cada quatro anos. Dá pra notar que eu pareço, então, uma Copa do Mundo da FIFA, uma Olimpíadas, na melhor das hipóteses.

Não é de rir. Tenho um irmão que me chama de “iceberg magricelo” sempre que se desalinha e afunda num copo uísque on the rocks. Daí, ele desanda a deixarem escancarados os portões do seu enorme canil de verdades. Eu faço a réplica: “Você que não faz ideia do que há submerso no oceano pacífico dessa minha irritante calmaria”. Não o condeno. Ao contrário, eu o amo. Vocês sabem: há, no mínimo, filigranas de sinceridade nos comentários bafejadores de um bebum extemporâneo.

Repercutiu à beça — muito mais do que o esperado beijo gay entre dois zagueiros gregos durante uma partida pela Copa do Mundo — a choradeira dos jogadores da seleção do Brasil por estas plagas. Sensíveis ao extremo, mulheres e crianças torcedoras choraram com os craques milionários, acharam tudo aquilo fofo demais.

Minha própria mãe — há tantos anos, empertigada na menopausa, numa abstinência sexual espontânea da qual me sinto deveras aliviado — surpreendeu-me ao apontar o fura-bolo esquálido na direção da TV e confessar que tinha uma vontade danada de colocar no colo um lacrimoso zagueiro canarinho, aquele que tem os cabelos em forma de molinhas, uma versão brasileira das melenas de Shirley Temple quando criança, “uma graça”, ela disse.

Ameacei esconder da amantíssima senhora cada comprimido de rivotril que houvesse lá em casa, além de trancafiá-la na despensa numa tarde de domingo, sem que assistisse ao milenar programa televisivo de Silvio Santos. Mamãe sorriu, balançou o esqueleto, e foi coar um cafezinho no seu legendário bule esmaltado, herança sei lá de quem, e que, qualquer dia, estou certo, ainda vai nos matar de tétano tamanha a ferrugem.

Enciumados até os cornos, os homens, é claro, acharam toda aquela choradeira dentro do campo uma frescura deslavada, um verdadeiro atestado de fraqueza e medo da derrota, por parte daquela gangue de profissionais da bola regiamente pagos pelos seus times e adulados pelos torcedores.

Frente ao frisson criado por causa do desmedido chororô da equipe canarinho dentro das quatro linhas, e às centenas de pareceres informais de psicólogos por todo o território nacional, eu achei conveniente compilar e indicar, não somente aos atletas durões desta e de outras Copas que ainda virão, mas aos homens de coração duro, uma lista com os 10 Mais Tristes Filmes da História do Cinema. Companheiros, tranquem a porta da sala, assistam aos filmes, saquem os seus lenços de seda, mas chorem com moderação.
.

O Garoto (The Kid, 1921)

O Garoto

Este filme de Charles Chaplin, uma mescla de drama e comédia, embora pertença à Era do Cinema Mudo, fala alto aos corações. Ou seja, quem tiver olhos para ouvir, que veja.

O Campeão (The Champ, 1979)

O Campeão

A incrível cena do garotinho T.J. chorando sobre o corpo do pai morto após uma luta de boxe foi considerada a mais triste do Cinema em todos os tempos. Eu concordo. É porrada. Papai, eu confesso que chorei.

Amor (Amour, 2012)

Amour

Melancólico, delicado, poético. Nunca antes na história dos amores correspondidos, os versos acerca de um amor que fosse imortal enquanto durasse, posto que era chama, do casamenteiro poeta Vinicius de Moraes, fizeram tanto sentido neste excelente filme francês que arrebatou, além das minhas lágrimas disfarçadas, a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A trama sugere possa o amor ser tão inoxidável quanto a mágoa. É triste de morrer. Literalmente.

Sempre ao seu Lado (Hachico: a dog’s story, 2009)

Sempre ao seu Lado

Filmes tristes com animais fofinhos sempre fizeram tremendo sucesso no cinema. Baseado numa história real, este remake norte-americano de um filme japonês do final dos anos 1980, estrelado pelo incensado ator bonitão Richard Gere, aborda, além da amizade e lealdade, a devoção um animal ao seu dono. Ressalve-se que, se os canídeos conhecessem a real natureza humana, não perderiam o seu curtíssimo tempo de vida sentados numa estação de trem à espera de sujeito algum. Melhor seria que fossem roer os seus ossos.

A Vida é Bela (La Vita è Bella, 1997)

A Vida é Bela

Desde que não seja uma sátira, os filmes de guerra são sempre desagradáveis, pois mostram o quanto um ser humano pode ser cruel e abjeto. Este maravilhoso filme do italiano Roberto Benigni alia drama e comédia na medida certa. A história se passa num campo de concentração onde o pai, um judeu muito bem humorado, faz crer ao pequeno Giosuè, seu filhinho, que ambos estão, na verdade, participando de um grande jogo, uma espécie de gincana. Por causa das emoções que experimentei em “A Vida é Bela”, até hoje chamo minha filha de “principessa”, como uma singela forma de tributo. Escorre poesia da trama que, de tão bela e cebolística, fere que nem rajada de metralhadora na Faixa de Gaza.

Meu Pé de Laranja Lima (1970)

Meu Pé de Laranja Lima

Baseado no livro de José Mauro de Vasconcelos, este simplório filme brasileiro marcou a infância de muitos da minha geração. Lembro-me do quanto eu chorei (escondido dentro do armário, é claro), e de como fiquei revoltado com o mundo dos adultos, aqueles cortadores de pés de laranja lima. A ideia, a partir de então, era não mais crescer, como se eu fora uma das personagens do escritor Gunter Grass, em “O Tambor”. Mas, deu no que deu: os hormônios invadiram as minhas púberes e indefesas entranhas, e se intrometeram na minha meninice. Tanto assim que me tornei, do ponto de vista social, um adulto bastante peludo e produtivo, porém, com sub-reptícias tendências anti-sociais — de se estragar festa e batizado, por exemplo — quando o assunto é crer que o ser humano tenha conserto.

Ladrões de Bicicletas (Ladri di Biciclette, 1948)

Ladrões de Bicicletas

Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro à época, o ótimo filme de Vittorio de Sica conta uma história que se passa em Roma, no pós-guerra, quando um homem, dentre tantos outros, procura um emprego para manter a sua família. Desgraça pouca é bobagem: de tanto peregrinar, o sujeito finalmente consegue um emprego. Ele compra uma bicicleta para trabalhar como colador de cartazes, mas tem a magrela roubada. Ele se vê novamente a pé, sem emprego e quase sem esperança, não fosse o nobre apoio do seu filhinho nas andanças pela caótica cidade de Roma.

O Óleo de Lorenzo (Lorenzo’s Oil, 1992)

O Óleo de Lorenzo

Que a vida é repleta de dramas, todo mundo já sabe. Que o amor se revela em inúmeras nuanças, idem. O filme conta a luta draconiana dos personagens de Nick Nolte e Susan Sarandon pela cura de uma doença rara e mortal desenvolvida pelo filho, ainda na infância. Quem já lidou com uma reles gripe de um pimpolho imagina quão abaladas e sofríveis as relações familiares podem se tornar frente à doença incurável de uma criança.

Mar Adentro (Mar Adentro, 2004)

Mar Adentro

A produção espanhola estreada por Javier Bardem, vencedora de Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, conta a saga de um homem de meia idade, que ficou tetraplégico num mergulho, para conseguir autorização judicial para se matar, uma vez que não podia fazê-lo sozinho. Ao assistir a este instigante filme, recomenda-se mergulhar de cabeça, sem o menor receio de quebrar o pescoço. Já quanto aos paradigmas…

O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, 2001)

O Quarto do Filho

Se os versos “a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”, cantados pelo Chico em “Pedaço de mim”, fazem as suas pálpebras estremecerem de comoção, o que prever ao encarar este muito triste filme italiano? Bem aventurados, aqueles que podem se levantar da poltrona e dizer: “Uau! Ainda bem que era só um filme”. Duro é quando não se pode sair dele nunca mais. Aí, e de chorar mesmo, chapas.

Eberth Vêncio

Eberth Franco Vêncio, médico e escritor, 59 anos. Escreve para a Revista Bula há 15 anos. Tem vários livros publicados, sendo o mais recente Bipolar, uma antologia de contos e crônicas.