Indesejável leitor, se você se dispôs a ler este texto: meleca! Você deve ser um curioso terminal, um fracassado contumaz ou uma criatura que se dependura num cabide de empregos governamentais para servir café frio aos colegas, assediar as gostosas companheiras de ócio no palácio ou prestigiar os eventos festivos do seu partido. A ordem dos detratores não altera o salvo conduto.
Paul Rabbit — um escritor acadêmico esotérico e imortal pichador de muros da Babilônia — destrincha em seus worst-sellers “Veruska Decide Fracassar”, “O Segredo do Fracasso” e “Meu Fracasso Será sua Herança” o beabá do revertério, leitura obrigatória para quem não gosta de livros (e não sobrevive sem a internet) e para os escolados no vício de tomar ré na vida.
Em tempos de globalização da burrice, da busca frenética por metas financeiras para as grandes corporações, do adestramento dos colaboradores para colaborarem com o belo quadro social a qualquer custo, do coaching executado com estranhos para se tomar um rumo na vida, tal enfadonha bibliografia, à primeira vista, até pareceria um contrassenso, uma aberração, um monólogo no deserto, um discurso no Congresso Nacional em véspera de feriado, uma piada de mau gosto, um quase hilário enredo para aspirantes a atores de talk show em busca do famigerado pé-de-meia. E é justamente isso, canibais leitores.
Contando com o auxílio de estudantes universitários com notas no ENADE abaixo de 02 (porém, com mais de 1.000 curtidas nas suas respectivas fan pages), uma cigana cega, honesta e temente a Deus (Deusdete, o esposo viciado em MMA e violência doméstica), um jornalista investigativo investigado pela Receita Federal e um ex-padre exorcista endemoninhado listamos algumas mandingas infalíveis para quem anseia nadar contra a correnteza e, claro, fracassar sem vergonha nenhuma no ano que se avizinha. Por favor, notem como era linda a minha vizinha francesa, e anotem estes impropérios na areia da praia antes que a próxima onda venha ou as suas férias se acabem.
A despeito do cancro sifilítico adquirido do (da) cunhado (da) e do corrimento vaginal (uretral) pestilento hora vigente, introduza na calcinha (cueca) 12 sementes de romã devidamente chupadas e salte as 12 ondas utilizando apenas uma das pernas. Antes de sair para o baile do réveillon, durante a revelação em família do Amigo Oculto, desmascare o (a) seu (sua) cunhado (a) falseta, procure amanhã mesmo (pensando bem: faça isto depois de amanhã, afinal, amanhã será feriado no mundo inteiro, exceto onde existam fome, guerra, ausência do Estado ou de seres humanos) um ginecologista cubano (um balconista brasileiro da farmácia da esquina), faça uma saborosa vitamina de romã e um brinde ao caos familiar por você criado.
Depois do carnaval — que é, realmente, quando o ano e as gonorreias começam — faça aquele sonhado curso de oratória, faça a barba, faça as pazes com os seus piores inimigos e fundem juntos uma igreja ou seita. Mesmo sendo ateu, aceite Cristo no seu coração, compre um terno em suaves prestações e pegue pesado contra o auditório lotado, ao testemunhar aquele milagrezinho maroto exaustivamente ensaiado com os comparsas, o qual fará com que o mais miserável de seus séquitos arranque com gosto a última moedinha do bolso. Depois, então, basta abrir filiais Brasil afora, comprar umas emissoras de rádio e aplicar o faturamento líquido em paraísos fiscais nos quais Deus não exista.
Invista mais nas bolsas. Use, contudo, luvas de pelica, a fim de não deixar as digitais.
2014 será um ano incrível, com direito a Copa do Mundo, escândalos e eleições majoritárias. Pra cima deles, Brasil! Portanto, venda a sua mãe (caso possua alguma), aquele carro velho e se filie a um partido político ao estilo “legenda de aluguel”. Faça uma rifa e compre uma vaga na disputa para deputado estadual nas próximas eleições. Se eleito for, roube tudo o que for capaz e negue tudo até o seu leito de morte. Se for desmascarado, conceda entrevistas coletivas de cabeça erguida, considere chorar nem que seja um pouquinho, invoque o Sangue do Cordeiro e a ilibada moral herdada dos seus pais, ainda que você seja um grandessíssimo fila-da-puta.
Inscreva-se no Programa Governamental Mais Médiuns e faça aparecer os 20% de comissão nos recantos mais longínquos e desassistidos do país, lá onde nem a desonestidade ainda alcançou, quem dirá, um milagrezinho ou um comprimido de dipirona.
Convide um sujeito que nunca pisou em bosta de vaca para formarem uma dupla musical (?!) de sertanejos-universitários. Anota aí, otário: utilize apenas três acordes no violão, encha a letra com um punhado de onomatopeias repetidas à exaustão e se prepare para a bancarrota. A não ser que vocês dois invistam algum dinheiro em jabá para as rádios tocarem os seus principais fracassos.
Faça como todos estão fazendo, sua besta: aposte alguns trocados na Mega Sanha da Virada. Vai que você vira milionário e nem precisa de todas estas dicas para se tornar um infeliz.
Plante uma árvore (pode até ser um pé de maconha, caso você resida no Uruguai ou na baixada fluminense), escreva um livro (pode ser uma paródia daquele B.O. que você assinou na delegacia) e tenha um filho (para tanto, pare de engravidar adolescentes e colocar citotéqui nas suas mamadeiras). Feito isso, você já terá se tornado um homem absolutamente desprezível.