Essa lista propõe selecionar alguns dos filmes mais influentes do século 21. É importante destacar que não se trata necessariamente dos melhores ou mais importantes à longo prazo, mas sim daqueles que ajudaram a definir o imaginário cinematográfico dos últimos anos. Esse critério cronológico deixa de fora obras-primas como “Toy Story” (1995), que estabeleceu como deve ser uma animação computadorizada, “Matrix” (1999), que definiu grande parte do visual contemporâneo, “Bruxa de Blair” (1999), que criou a moda dos filmes estilo falso “documentário”, e “Clube da Luta” (1999), que jogou em nossa cara toda a mediocridade na qual estamos afogados. Então, bem-vindos à 2001, uma odisseia no cinema.
A trilogia “O Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson, redefiniu o conceito de épico no cinema. Todos os filmes de fantasia realizados depois obrigatoriamente precisaram levar em conta sua mistura de roteiro bem escrito, cuidado técnico, elenco afiado e senso de espetáculo. “O Senhor dos Anéis” elevou tanto o nível que nem mesmo Peter Jackson conseguiu manter o mesmo grau de excelência com a trilogia “O Hobbit”, lançada entre 2012 e 2014.
A série de filmes do mago Harry Potter marcou uma geração. Embora o nível das produções seja desigual, o resultado médio é bastante satisfatório. Vale pela experiência de assistirmos o elenco infantil crescer diante das câmeras e, sobretudo, pelo desfile de talentos do cinema inglês que passou pela tela em dez anos de aventuras mágicas. Infelizmente, rendeu subprodutos muito fracos como a série “Percy Jackson” e “Eragon”.
Durante muitas décadas se acusou o cinema brasileiro de só realizar filmes sobre a favela. Obviamente, uma inverdade. Mas mesmo que fosse real, teria valido a pena só para chegar ao grau de competência de “Cidade de Deus”. Não por acaso concorreu ao Oscar em diversas categorias artísticas e técnicas, não ficando relegado ao prêmio de melhor filme estrangeiro. É um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, ao lado de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Cabra Marcado Para Morrer”, “Lavoura Arcaica” e o épico incompreendido “Cinderela Baiana”.
Diferentemente de décadas passadas, quando obras como “E o Vento Levou”, “Ben-Hur”, “Guerra nas Estrelas” e “O Poderoso Chefão” conquistavam público e crítica, ao longo do século 21 o cinema comercial gerou filmes mais influentes do que o chamado “cinema de arte”. Cineastas como Lars Von Trier, Aronofsky e os irmãos Coen produziram obras artisticamente importantes, mas que muitas vezes tiveram repercussão circunscrita ao circuito cinéfilo, não atingindo o grande público. Talvez o longa-metragem símbolo desse grupo seja “Sangue Negro”, de Paul Thomas Anderson, um magnifico estudo de personagem à moda antiga. P. T. Anderson é o mais sério candidato a sucessor de Kubrick do cinema atual.
É possível levar filmes de super-heróis à sério? A segunda parte da trilogia de Christopher Nolan sobre Batman provou que sim. Ele tanto pode ser visto como uma aventura quanto como um filme policial. Gerou protestos veementes quando não foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, provocando o aumento do número de candidatos no ano seguinte, passando de cinco para dez. E gerou no mínimo um personagem icônico: o Coringa de Heath Ledger.
“Avatar” é um caso de ame ou odeie. Assim como o filme anterior de James Cameron, “Titanic”, que eu, pessoalmente, gosto, embora tenha uma ou outra restrição. O roteiro de “Avatar” é mesmo fraco e previsível, sendo basicamente uma versão espacial de “Pocahontas”. Seus personagens, tirando o sargento durão, carecem de carisma. Porém, enquanto realização técnica é inegavelmente uma das maiores da história do cinema. Gostando ou não do filme, ele ensinou toda uma geração de cineastas como se deve usar computação gráfica e tecnologia 3D. O público entendeu. Não por acaso é, atualmente, a maior bilheteria de todos os tempos.
Se não bastasse terem Jorge Luis Borges, Juan Manuel Fangio e cinco prêmios Nobel, o cinema argentino está muito mais evoluído do que o brasileiro. Produzimos grandes filmes, como “Cidade de Deus” e “Lavoura Arcaica”, mas na média os “Hermanos” são melhores. Minha tese para isso se baseia no fato de que os cineastas argentinos leem mais e, por consequência, escrevem roteiros melhores. Uma questão de tradição cultural, portanto. Por outro lado, sempre vejo diretores brasileiros se gabando de filmarem sem roteiro. “O Segredo de Seus Olhos” é o melhor exemplo do que um grande roteiro, somado a técnicos e elenco de primeiro nível, pode realizar. Enquanto não tivermos no Brasil pelo menos a metade das livrarias que existem só em Buenos Aires teremos que usar Pelé para nos defendermos.
Foi chamado de “Cidadão Kane” do século 21. Talvez seja um exagero, mas, sem dúvida, é o filme que melhor retratou a geração “rede social”. Querendo ou não, Mark Zuckerberg é uma das grandes personalidades das últimas décadas. Para o bem ou para o mal, e o filme soube captar essa dualidade. Por falar nisso, vou mandar um pedido de amizade para ele agora…
Os estúdios Marvel estão realizando um feito inédito na história do cinema: a construção de um universo cinematográfico compartilhado que se espalha por dezenas de filmes, mantendo coerência e cronologia. Embora o tom geral tenha sido estabelecido no primeiro filme do projeto, o “Homem de Ferro”, lançado em 2008, a fórmula alcançou a perfeição em “Os Vingadores”. O ritmo, o senso de humor, o desenvolvimento dos personagens, está tudo aqui. E, o principal, é um filme maravilhosamente divertido! Não é nada fácil realizar isso. Pergunte para os executivos da DC.
“Django Livre” não é tecnicamente o melhor trabalho de Quentin Tarantino nos últimos tempos. Mas, sem dúvida, é seu filme mais socialmente relevante e o que mais alcançou o grande público. A saga do pistoleiro negro, inspirado no personagem clássico de Franco Nero, que resgata sua esposa que fala alemão é dinamite pura contra o racismo. E nada melhor do que a cena onde expõem todo o ridículo da KKK.