Romance que está no TOP 1 mundial da Netflix é a desculpa que você queria para ficar em casa à noite Divulgação / Netflix

Romance que está no TOP 1 mundial da Netflix é a desculpa que você queria para ficar em casa à noite

Entre os anseios românticos e os confrontos com a maturidade, “Uma História de Amor em Copenhague” é uma reflexão sincera e desprovida de idealização sobre os desafios dos relacionamentos e os conflitos internos que acompanham a maternidade. Inspirado no romance de Tine Høeg, o longa da Netflix acompanha a trajetória de Mia, uma escritora de renome cujas obras frequentemente exploram as nuances do amor e do desejo. Acostumada a se envolver com homens mais jovens, ela se depara com um dilema existencial ao iniciar um relacionamento com Emil, um arqueólogo divorciado e pai de duas crianças. O que começa como um romance inesperado se transforma em um espelho de suas próprias incertezas sobre a passagem do tempo, a identidade feminina e o peso das expectativas sociais.

Ao mergulhar na relação com Emil, Mia encontra um novo significado na maternidade ao se tornar uma “mãe bonus” para Felix e Selma. A dinâmica familiar lhe oferece um inédito senso de pertencimento, mas também acende um desejo latente: ser mãe biológica. O desejo rapidamente se transforma em obstinação, levando-a a uma jornada desgastante de fertilização assistida. O filme captura com precisão a montanha-russa emocional desse processo, destacando não apenas as dificuldades clínicas, mas também o impacto psicológico e a relação conflituosa que Mia passa a ter com seu próprio corpo. A cada tentativa frustrada, cresce nela um sentimento de inadequação que afeta seu relacionamento com Emil e, sobretudo, consigo mesma.

O auge do desespero a leva a um momento de ruptura. Em um ato impulsivo de raiva e frustração, Mia culpa Emil por sua dor, tentando transferir para ele a responsabilidade de um processo que, no fundo, é solitário. Fugindo de uma festa, ela busca conforto em um beijo com um estranho, mas a epifania que segue é amarga: nenhuma fuga externa preencheria o vazio crescente dentro dela. O confronto subsequente com Emil não resulta em uma separação definitiva, mas sim em uma compreensão mais profunda sobre os desafios e concessões do amor e da maternidade.

Paralelamente, o filme contrasta a história de Mia com a de sua amiga Gro, que, ao descobrir uma gravidez inesperada, opta pelo aborto devido a traumas do passado. Essa justaposição revela como a maternidade é uma experiência subjetiva, permeada por camadas emocionais e sociais que vão além de qualquer narrativa simplista. Ao evitar a abordagem melodramática convencional, “Uma História de Amor em Copenhague” se firma como um drama introspectivo que desafia expectativas e retrata com realismo a complexidade dos desejos humanos.

O título do longa pode induzir o espectador a um erro de interpretação. Enquanto a versão internacional sugere um romance tradicional, o título original, “Sult” (“Fome”), captura com mais precisão o cerne da narrativa: a insaciável busca por plenitude e as privações que acompanham essa jornada. É uma fome emocional, física e existencial que define a trajetória de Mia, tornando a tradução do título uma perda significativa de camadas interpretativas.

Apesar de sua força narrativa, o filme não está isento de críticas. Transições abruptas dificultam a imersão e uma construção de personagens que, em determinados momentos, parece superficial. Até mesmo o figurino chama atenção por escolhas que buscam comunicar aspectos psicológicos, mas nem sempre cumprem esse papel de maneira eficaz. Ainda assim, esses detalhes não comprometem a potência da obra, que se destaca justamente por fugir dos clichês e abordar a vida adulta com honestidade e profundidade.

“Uma História de Amor em Copenhague” vai além dos limites de um drama romântico e se firma como uma reflexão sobre os desejos inatingíveis, os limites do controle e as nuances da maternidade. Ao abordar infertilidade, aborto e as pressões sociais impostas às mulheres, o filme oferece um olhar maduro sobre os dilemas contemporâneos da feminilidade. Mais do que uma história de amor, é um estudo sobre as lacunas que tentamos preencher e sobre a dolorosa distinção entre o que desejamos e o que, de fato, nos é possível ter.

Filme: História de Amor em Copenhague
Diretor: Ditte Hansen e Louise Mieritz
Ano: 2025
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★