Aubrey Plaza se consolidou como especialista em interpretar papéis excêntricos, algo que é reforçado em “Ingrid Vai Para o Oeste”, comédia dramática dirigida por Matt Spicer e disponível no Prime Video. Spicer, que coescreveu o roteiro ao lado de David Branson Smith, descreveu o filme como uma espécie de “O Talentoso Ripley” com redes sociais. A produção oferece uma crítica mordaz ao impacto das plataformas digitais na sociedade moderna, explorando como a busca pela aprovação on-line pode alimentar obsessões, transtornos mentais e problemas de autoestima.
As redes sociais se tornaram um dos grandes desafios do século 21. Para muitos, não ter uma presença on-line significa correr o risco de cair no esquecimento — pessoal e profissionalmente. Por outro lado, estar conectado também traz um preço alto: a exposição constante pode comprometer a saúde mental, a privacidade e até a segurança. É uma faca de dois gumes que exige maturidade e equilíbrio para ser manejada sem prejuízos emocionais.
Os chamados “influenciadores digitais” ocupam um papel central nesse ecossistema. Com a habilidade de moldar comportamentos, ditar tendências e acumular seguidores, eles transformaram suas vidas — ou versões idealizadas delas — em um espetáculo público. Muitas vezes, essas figuras não possuem talentos notáveis, mas conquistam fama e riqueza ao construir uma narrativa de perfeição na internet. É, no mínimo, intrigante observar como a combinação de bens materiais, viagens luxuosas e momentos aparentemente idílicos atrai milhões de pessoas.
Essa busca pelo sucesso on-line, no entanto, exige sacrifícios. Influenciadores precisam abrir mão da privacidade, aceitar críticas constantes e sustentar uma vida baseada em aparências e futilidades. Não é uma “profissão” fácil: demanda tempo, dedicação e uma disposição para se tornar um mendigo de atenção, vivendo de patrocínios e parcerias publicitárias. Apesar disso, a promessa de ganhos financeiros e prestígio sem grandes esforços físicos ou intelectuais faz com que muitos se joguem nesse universo.
Porém, há um lado sombrio nessa exposição exagerada. As redes sociais criam uma falsa intimidade entre influenciadores e seus seguidores, o que pode gerar situações perigosas. O compartilhamento frequente de rotinas, locais visitados e bens consumidos acaba servindo como isca para pessoas desequilibradas ou com más intenções. E é exatamente nesse ponto que “Ingrid Vai Para o Oeste” se transforma em uma narrativa provocativa e relevante.
No filme, Aubrey Plaza dá vida a Ingrid, uma mulher profundamente instável que desenvolve uma obsessão por influenciadores digitais. Após um surto que a levou a agredir outra mulher com spray de pimenta por não ser convidada para seu casamento, Ingrid passa um tempo em uma clínica psiquiátrica. Contudo, ao sair, ela rapidamente encontra uma nova vítima: Taylor (Elizabeth Olsen), uma jovem boho-chic de Los Angeles que conquista seus seguidores com um estilo de vida artístico, autêntico e rústico.
Movida por sua obsessão, Ingrid começa a frequentar os lugares que Taylor posta em suas redes e até compra roupas idênticas às dela. Determinada, ela arma situações para que seus caminhos se cruzem e, eventualmente, consegue se infiltrar no círculo social de Taylor e de seu marido. Apesar do aparente sucesso inicial, os transtornos mentais de Ingrid não tardam a vir à tona, levando a narrativa a um desfecho inevitavelmente caótico.
O grande trunfo do roteiro, no entanto, está em mostrar que não é apenas Ingrid quem manipula a realidade para se adequar a uma fantasia idealizada. Taylor, com sua vida aparentemente perfeita, também se revela uma fraude em muitos aspectos. O filme desmistifica a ideia de que celebridades do Instagram sejam inerentemente superiores ou mais felizes do que as pessoas comuns. Pelo contrário, a trama enfatiza que, por trás de cada imagem editada e cuidadosamente curada, há imperfeições e inseguranças como as de qualquer outra pessoa.
Essa reflexão é crucial em um mundo onde é comum comparar nossa rotina real com a vida filtrada e fabricada que vemos on-line. O filme destaca como isso é não apenas injusto, mas também prejudicial para o bem-estar emocional. Afinal, tudo o que aparece nas redes sociais é estrategicamente planejado para criar uma narrativa idealizada, tornando perigoso medir a própria felicidade com base nesse tipo de parâmetro.
Com “Ingrid Vai Para o Oeste”, Matt Spicer e Aubrey Plaza oferecem uma sátira poderosa e relevante sobre os perigos das redes sociais, desafiando o público a questionar até que ponto estamos dispostos a ir para alcançar um ideal que, muitas vezes, não passa de uma ilusão.
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