Baseado em filosofia de Edmund Husserl e Henri Bergson, ficção científica com Jamie Dornan está na Netflix Divulgação / Well Go USA Entertainment

Baseado em filosofia de Edmund Husserl e Henri Bergson, ficção científica com Jamie Dornan está na Netflix

Aaron Moorhead e Justin Benson, conhecidos pela parceria tanto no campo pessoal quanto profissional, têm uma trajetória de colaborações de sucesso, com destaque para filmes como “Resolution”, “Primavera” e “O Culto”, que precedem o lançamento de “Synchronic”. A produção de 2019 conta com as atuações de Anthony Mackie e Jamie Dornan, que interpretam os paramédicos Steve e Dennis, respectivamente. Os dois personagens, tal como os próprios cineastas, compartilham uma amizade sólida, trabalhando juntos nas ruas de New Orleans, onde se dedicam a socorrer vítimas de tragédias cotidianas.

Com Benson no comando do roteiro e Moorhead cuidando da cinematografia, ambos assumem simultaneamente a direção do filme. No entanto, “Synchronic” revela-se uma obra em que a narrativa promete mais do que entrega, mantendo-se na superfície de um drama existencial enquanto explora um conceito de ficção científica intrigante. A trama gira em torno de uma nova droga sintética, a Synchronic, que rapidamente se espalha entre os jovens, provocando uma série de eventos bizarros que os paramédicos enfrentam durante suas rotinas. Casos como o de um rapaz que morre após ser atingido por uma espada enquanto sob efeito da substância, uma jovem que sofre combustão espontânea em um parque de diversões e outro incidente envolvendo uma picada de cobra em um hotel, levam Steve a questionar os mistérios da droga.

A motivação de Steve para entender os efeitos da Synchronic se aprofunda quando ele recebe um diagnóstico de doença terminal e descobre o desaparecimento de Brianna, filha de Dennis, que havia utilizado a substância. Esse contexto pessoal o leva a testar a droga, na tentativa de descobrir o que a torna tão única e entender a relação com o sumiço da jovem. Durante seus experimentos, ele se depara com uma revelação impressionante: a Synchronic permite que seu usuário viaje no tempo, mas a viagem não é controlada; o destino depende do local onde a droga é ingerida, fazendo com que os viajantes se encontrem em situações caóticas e perigosas, muitas vezes em tempos e lugares completamente inesperados.

Moorhead e Benson utilizam a ideia de uma “bad trip” e a aplicam de forma literal, proporcionando aos personagens experiências alucinantes que os colocam em contextos de extremo perigo. Embora existam momentos de humor nas situações absurdas, o objetivo do filme não é a comédia, mas sim uma abordagem profunda e dramática das experiências pessoais dos personagens. O foco maior está nas dificuldades emocionais e nos dilemas existenciais que Steve e Dennis enfrentam, longe da leveza associada a filmes de ficção científica mais tradicionais.

A estética visual do filme reflete uma atmosfera instintiva e, ao mesmo tempo, cuidadosamente trabalhada. A fotografia de Moorhead, influenciada por sua admiração por cineastas como Martin Scorsese, traz à tona uma iluminação única que resgata o estilo vibrante de “Vivendo no Limite”, enquanto a sensação de surrealismo sombria remete ao estilo de Christopher Nolan. As montagens, que exploram elementos naturais e cósmicos, possuem uma estética que pode lembrar as abstrações conceituais de Terrence Malick, incorporando imagens do universo de maneira poética.

O título do filme, “Synchronic”, não é apenas o nome da droga central, mas também uma alusão ao conceito de tempo cronológico, que se torna essencial no desenrolar da história. A escolha do nome reflete uma tentativa de mergulhar nas profundezas de temas como a relatividade temporal e a percepção humana do espaço e do tempo, algo que seria uma excelente base para uma narrativa de ficção científica mais profunda. No entanto, o filme não consegue se aprofundar o suficiente na exploração desses conceitos, ficando aquém das expectativas criadas pelo seu título e pelo potencial de sua premissa.

“Synchronic” se revela um filme ambicioso, que tenta equilibrar elementos de ficção científica com dramas pessoais e questões existenciais. Apesar de suas limitações em explorar o conceito da droga e suas implicações, o filme se destaca pela sua originalidade e pelo tom introspectivo que seus personagens atravessam. Não obstante, ele deixa uma sensação de que o que poderia ter sido uma obra-prima da ficção científica acaba se tornando mais uma reflexão sobre as escolhas e as perdas pessoais.

Filme: Synchronic
Diretor: Justin Benson e Aaron Moorhead
Ano: 2019
Gênero: Drama/Ficção Científica/Thriller
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★