Faroeste contemporâneo com Idris Elba e Caleb McLaughlin é um pequeno diamante escondido na Netflix Aaron Ricketts / Netflix

Faroeste contemporâneo com Idris Elba e Caleb McLaughlin é um pequeno diamante escondido na Netflix

Ao longo da história, os afro-americanos desempenharam um papel significativo na construção dos Estados Unidos, mesmo quando suas contribuições foram frequentemente omitidas dos registros oficiais. Entre essas histórias pouco contadas estão as dos caubóis negros, homens que, por gerações, viveram em harmonia com a terra e dominaram as práticas mais rudimentares da vida rural. Apesar de serem figuras centrais nesse cenário, a memória de sua existência foi sendo apagada, deixando para trás apenas vestígios de sua importância. O reconhecimento de suas habilidades, que iam além do trabalho braçal, representou não apenas a sobrevivência de comunidades inteiras, mas também o alicerce para muitos dos valores que, até hoje, definem uma nação. No entanto, com o passar do tempo, sua presença foi esmaecida, ofuscada por uma narrativa histórica que privilegiava outros protagonistas e silenciava essas vozes essenciais para a compreensão completa do passado norte-americano.

“Alma de Cowboy”, de Ricky Staub, lançado em 2020, traz uma perspectiva diferenciada sobre os caubóis afro-americanos ao situar sua trama em Fletcher Street, Filadélfia. Em um estilo moderno e visceral, o diretor mergulha no cotidiano desses vaqueiros urbanos, explorando suas lutas diárias e sua conexão com a terra e os animais. O enredo, centrado no reencontro conturbado entre um pai, Harp, e seu filho, Coltrane, oferece uma visão detalhada da resiliência dessas comunidades, que se sustentam a despeito da negligência das autoridades públicas. O filme é enriquecido por uma fotografia cuidadosa e uma direção que humaniza os personagens, evitando os clichês do western tradicional, ao mesmo tempo que utiliza membros reais da comunidade local para intensificar o realismo. A narrativa, longe de ser apenas uma crítica social, também explora questões como o tráfico de drogas, subjacentes ao cenário bucólico, conferindo camadas adicionais ao drama vivido por seus protagonistas.

Idris Elba, no papel de Harp, é o coração pulsante dessa história, desempenhando um personagem cuja força silenciosa e introspectiva permeia o filme. Em contraste, Caleb McLaughlin, que interpreta o jovem Cole, traz uma energia vibrante, e sua química com Elba é um dos pontos altos da produção. A relação conflituosa entre pai e filho se desdobra em momentos que equilibram tensão e sensibilidade, enquanto o pano de fundo da vida dos caubóis urbanos oferece um contraponto ao tradicional ambiente western. Lorraine Toussaint, como Nessie, adiciona uma leveza necessária à trama, com toques de humor em meio a um enredo densamente emocional. “Alma de Cowboy” não busca resolver os conflitos de forma simples, mas sim apresenta um estudo de personagens que, apesar de suas diferenças, encontram na convivência uma forma de lidar com os desafios maiores, que vão além de suas próprias limitações pessoais.


Filme: Alma de Cowboy
Direção: Ricky Staub
Ano: 2020
Gêneros: Faroeste/Drama
Nota: 9/10