Gal Gadot vai invadir seu fim de semana: novo suspense da Netflix é um dos filmes mais caros esperados de 2023 Robert Viglasky / Netflix

Gal Gadot vai invadir seu fim de semana: novo suspense da Netflix é um dos filmes mais caros esperados de 2023

A inteligência artificial, como se poderia imaginar, vem se tornando uma ameaça à humanidade e, em tudo seguindo como nas presentes condições, há de ser para breve o tempo em que, de concorrentes rancorosos e mudos, aparelhos, softwares, robôs, dispositivos de toda ordem passarão a adversários desleais, inatingíveis em seus planos macabros de subjugação de seus criadores e humanamente cruéis, emulando os mais de 140 mil anos de truculência do homo sapiens, fervida e refervida nos caldeirões da ambição, da fome de poder a todo custo e do ódio que puderam absorver da convivência conosco. É aí que entra “Agente Stone”, a hábil distopia em que Tom Harper vai se aprofundando nos descaminhos da relação homem-máquina sob o ponto de vista da personagem-título, uma espiã às voltas com uma questão a um só tempo muito própria de seu ofício e que começa a andar pelos corações e mentes do cidadão mais comum. Harper pinça do roteiro de Allison Schroeder e Greg Rucka os elementos que nos permitem concluir, a dada altura da história, que Stone até parece indiferente às complexas mudanças que cercam-nos a todos nesse já avançado século 21; entretanto, o impressionante mesmo é a forma como o diretor sabe torcer os argumentos que levam o espectador a fazer essas suposições para a abordagem oposta, até que a heroína mostre-se, afinal, entre temerosa e resignada com seu destino e o dos outros quase sete bilhões de terráqueos.

Harper começa seu filme tirando o fôlego da audiência com um plano geral das montanhas tomadas de neve dos Alpin Arena Senales, uma estação de esqui no extremo norte da Itália, onde acontece uma festa meio suspeita com um sol pálido por testemunha. Rachel Stone, um dos mais brilhantes quadros do MI6, o serviço secreto do Reino Unido para atividades fora dos domínios britânicos, está prontinha para entrar em ação, depois de traçar um pacote de batatas fritas e de ouvir as últimas novidades sobre Barry, o gato de Max Bailey, o colega vivido por Paul Ready. Gal Gadot encarna à perfeição esse misto de doçura e frieza, atributos de que a protagonista se serve na nova missão, capturar vivo ou morto o traficante de armas mais procurado do mundo, reassumindo o comando da quadrilha ao cabo de três anos do périplo por esconderijos em todo o planeta. Em pouco mais de duas horas, o diretor dispõe de tempo o bastante para encher a trama de falsos mocinhos, como o Parker de Jamie Dornan, adquirindo experiência em interpretar tipos mais cinzentos desde “O Cerco de Jadotville” (2016), dirigido por Richie Smyth, e lembrando o antagonista de Henry Cavill em “Missão: Impossível — Efeito Fallout” (2018), de Christopher McQuarrie.

Lá pelo meio do segundo ato, fica cada vez mais claro que Stone também não é exatamente um primor de ética em sua profissão, tendo sido incorporada ao MI6 pela Carta, organização clandestina cujos membros são os lobos solitários e suicidas dispostos a usar as mãos em nome da tão sonhada paz global. Até o desfecho, “Agente Stone” conforma-se em permanecer nessa faixa de relativa tranquilidade, brincando com clichês e excelentes imagens em computação gráfica, sugerindo uma continuação — e se o mundo não acabar antes.


Filme: Agente Stone
Direção: Tom Harper
Ano: 2023
Gênero: Mistério
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.