Romance com Kate Winslet, na Netflix, mostra que o amor é implacável e só segue as regras do coração Dale Robinette / Paramount Pictures

Romance com Kate Winslet, na Netflix, mostra que o amor é implacável e só segue as regras do coração

Do diretor Jason Reitman, que coescreveu o roteiro com Joyce Maynard, “Refém da Paixão” é um drama romântico que se passa em setembro de 1987, na maior parte do tempo. Na verdade, o filme é uma espécie de lembrança, contada por Henry (Tobey Maguire), um confeiteiro na casa dos 30 anos. Ele relembra tempos de sua infância, em que as coisas não eram nada fáceis, especialmente para sua solitária e depressiva mãe, Adele (Kate Winslet).

De volta nos anos 1980, Henry (Gattlin Griffith) é apenas um garoto acompanhado de sua mãe, voltando para casa no feriado do Dia do Trabalho, quando eles são abordados por Frank (Josh Brolin), um homem misterioso e ferido. Eles se sentem compelidos a ajudá-lo. Adele leva Frank para sua casa, onde os três assistem ao noticiário que revela: o homem é um fugitivo da Justiça, procurado por assassinato.

Com uma fotografia alaranjada e empoeirada, o filme nos transporta de volta no tempo, para uma vizinhança calma e relativamente segura, em que os moradores todos se conhecem e não esperam que grandes acontecimentos os surpreendam. Frank precisa ficar dentro da casa, porque qualquer suspeita dos vizinhos colocaria a polícia na porta de Adele. Procurado como um homem altamente perigoso, mãe e filho passam seus primeiros dias sob o olhar intimidador de Frank com medo e desconfiança.

Aos poucos, a presença do homem parece preencher alguns espaços vazios na casa. Ele ensina Henry a jogar baseball, faz uma torta de pêssego para o garoto e para Adele e, com o passar dos dias, sua presença ameaçadora se transforma em sinônimo de companhia e segurança, por mais improvável que pareça. É que, no fundo, há algo de gentil e generoso no caráter daquele homem.

Não sabemos durante a maior parte do filme quem ele matou e quais eventos o levaram a cometer o crime. Parece que, assim como Henry e Adele, relativizamos o que quer que Frank tenha praticado, afinal, ele faz bem para mãe e filho.

Adele revela que ficou estéril depois que deu à luz a Henry. Foi exatamente isso que a transformou em uma dona de casa melancólica e isolada. Consequentemente, o pai do menino acabou saindo de casa e a abandonando com sua dor. Frank também perdeu e o filho, que aparecem em alguns flashes de lembranças. O motivo só se explica no fim e qualquer tentativa de deixar mais claro seria spoiler. Também solitário, Frank e Adele preenchem seu vazio com a presença um do outro.

Enquanto percebe toques carinhosos e íntimos e a transformação da relação entre sua mãe e aquele homem estranho, Henry começa a refletir e amadurecer sobre sexualidade, relacionamentos, solidão e tudo mais. Reitman quis, neste filme, pensar em como é mais fácil, muitas vezes, nos abrirmos e sermos melhores compreendidos por estranhos do que por pessoas que estão há muito tempo em nossas vidas. Essa conexão entre Frank e Adele é despida de bagagens e julgamentos. Eles são uma nova chance um para o outro.

Com uma recepção dura na época de seu lançamento, “Refém da Paixão” parece um filme que amadurece com o tempo. Ele precisou passar um tempo sendo digerido para que pudesse ser aceito. Com belas atuações de Kate Winslet e Josh Brolin, sua química transmite uma certa comoção para o espectador.


Filme: Refém da Paixão
Direção: Jason Reitman
Ano: 2013
Gênero: Romance/Drama/Suspense
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.