O filme surreal da Netflix que vai bugar sua cabeça Divulgação / Netflix

O filme surreal da Netflix que vai bugar sua cabeça

“Cam” é uma mistura de drama e terror, que acompanha a camgirl Alice, que tem sua identidade na internet furtada. Se você ainda não sabe, camgirls são garotas que assumem uma espécie de alterego online e aparecem em transmissões ao vivo em sites adultos. Elas exibem conteúdos eróticos para seu público masculino ou feminino, que pode interagir e contribuir com dinheiro durante suas performances. Quanto mais pessoas estão assistindo aos vídeos, mais elas sobem no ranking do site, facilitando sua visualização e engordando sua conta bancária.

A Alice de “Cam” ganha o pseudônimo Lola quando está on-line. Com cenários lúdicos e enredos cada vez mais criativos, Lola faz transmissões que estão atraindo muitos espectadores. Quando ela finalmente entra no ranking das 10 mais populares do FreeGirlsLive.com, ela tem sua conta bloqueada por causa de uma invasão hacker. Mas a pior parte mesmo é que há outra pessoa idêntica a ela e que assumiu sua identidade e está fazendo as transmissões no seu lugar e pegando seu dinheiro. É surreal como a invasora é extremamente parecida com Lola. Mas o problema começa a ficar cada vez mais sério, quando a farsante passa a fazer coisas que Alice jamais faria, como shows que expõem sua família, sua vida pessoal e também sua sexualidade.

Alice tenta de várias formas recuperar sua conta. Ela inclusive chama a polícia, que não leva sua queixa à sério. Atormentada por essa sósia que está destruindo sua vida e sua reputação, Alice procura por outras garotas que tenham vivenciado situações similares para investigar quem está por trás das invasões e tentar combatê-las. No entanto, a história vai ficando cada vez mais bizarra, macabra e assustadora.

“Cam” é um filme escrito e dirigido por Daniel Goldhaber e Isa Mazzei. À princípio, a história seria um documentário para mostrar como as camgirls se relacionam com seu trabalho e como elas são vistas pela sociedade, especialmente as pessoas próximas a elas. No entanto, logo no começo do projeto, Goldhaber percebeu que não era um bom documentarista. Então, ele decidiu transformar a ideia em uma ficção. Mas, claro, não sem sua parceira, Isa Mazzei, que colocou no roteiro várias de suas próprias experiências como camgirl.

Em uma entrevista, Mazzei contou que as pessoas a questionavam sobre as razões pelas quais havia escolhido trabalhar no ramo da pornografia. Entre os comentários, ela ouvia que era bonita demais, inteligente demais ou que sequer usava drogas. Sem dúvidas, há várias ideias pré-estabelecidas e preconceitos em cima de mulheres que optam por trabalhar neste universo. “Cam” tenta materializar esses desafios, mas também acrescentar um pouco de terror. Com influências de David Cronenberg, o filme segue em ritmo agonizante a batalha de Alice para provar sua identidade e preservar sua vida pessoal em tempos em que os golpes de internet podem afetar absolutamente todas as áreas da nossa existência terrena.

Goldhaber disse que contar essa história também foi um desafio moral para ele e uma forma dele também enxergar a relação das mulheres com o sexo de um jeito menos machista e conservador. Ele falou em entrevista que, em determinadas cenas, ele preferia se afastar e deixar Mazzei conduzir os atores, porque acreditava que não tinha experiência em determinados assuntos do ponto de vista das mulheres suficiente para dirigir.

“Cam” vem com uma boa dose de aprendizado, além do entretenimento proporcionado pelo suspense e o gore. Ele também nos abre a mente sobre como algumas coisas funcionam na indústria da pornografia, nos ajuda a olhar sob a perspectiva de uma mulher que trabalha lá dentro e o poder que ela detém por meio do sexo. Mas “Cam” também expõe os perigos da internet nos quais não apenas essas profissionais estão submetidas, como vazamento de dados e falsidade ideológica, mas todos nós.


Filme: Cam
Direção: Daniel Goldhaber e Isa Mazzei
Ano: 2018
Gênero: Drama/Terror/Mistério
Nota: 7/10