Visto por mais de 230 milhões de assinantes, filme é o maior sucesso da história da Netflix Frank Masi/Netflix

Visto por mais de 230 milhões de assinantes, filme é o maior sucesso da história da Netflix

“Alerta Vermelho” é um exemplo contundente de que, quando se trata de produções cinematográficas, o sucesso não pode ser garantido apenas por meio de investimentos exorbitantes ou da aposta em fórmulas predefinidas de popularidade. A Netflix, ao destinar impressionantes US$ 200 milhões para este projeto, pareceu acreditar que um orçamento colossal, aliado a um trio de estrelas carismáticas e a um diretor que já havia demonstrado competência em obras anteriores, seria suficiente para produzir um filme memorável. No entanto, a realidade revelou-se bem diferente: nem sempre essas combinações resultam em algo que cative o público ou se mantenha na memória por mais do que a duração dos créditos finais.

A trama, desenvolvida por Rawson Marshall Thurber, gira em torno de dois ladrões de antiguidades que participam de um jogo de perseguição e fuga. Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot são os rostos que carregam a narrativa, mas, apesar de seus momentos individuais, a química entre eles falha em sustentar o peso do filme. Com um enredo que transborda clichês, a produção se perde em tentar resgatar uma fórmula de entretenimento que, há muito, se tornou previsível e sem brilho.

A título de comparação, “O Irlandês” (2019), obra dirigida por Martin Scorsese, custou US$ 160 milhões — um montante significativamente menor — e entregou uma experiência cinematográfica imersiva com uma duração consideravelmente maior. Já em “Alerta Vermelho”, parte substancial do orçamento foi dedicada aos salários das estrelas e do diretor, mas o resultado final indica que, por mais que essas figuras possuam certo magnetismo, o investimento não foi suficiente para assegurar um conteúdo de qualidade.

O filme é dividido em quatro segmentos, e o primeiro dá destaque a John Hartley (Johnson), um agente incorruptível que se vê envolvido em uma reviravolta que compromete sua integridade. No desenrolar dos acontecimentos, Hartley cruza caminhos com Nolan Booth (Reynolds), um ladrão habilidoso que, apesar da fama, está sempre em busca de superar seu próprio passado. A conexão entre esses dois personagens se fortalece quando ambos se deparam com Sarah Black, também conhecida como “O Bispo” (Gadot), uma rival astuta que possui planos próprios envolvendo uma valiosa relíquia egípcia. Embora esse trio tenha sido promovido como o principal atrativo do filme, a superficialidade de seus diálogos e a falta de sinergia entre eles enfraquece o potencial de suas atuações.

Apesar de “Alerta Vermelho” ser vendido como um filme de ação repleto de reviravoltas, é impossível ignorar a forma descuidada com que os mistérios são apresentados. Flashbacks apressados e mal construídos interrompem o ritmo da narrativa, tornando a experiência confusa e pouco envolvente. O filme também desperdiça o talento de Ritu Arya, que interpreta a investigadora do FBI Urvashi Das. Sua performance, mesmo que breve, é uma das poucas que consegue se destacar, graças à precisão e economia de suas ações, em contraste com o excesso desnecessário dos outros personagens. Em um dos momentos mais marcantes, Arya encara o personagem de Johnson de maneira decisiva, e sua presença enérgica rouba a cena — um raro exemplo de profundidade em meio ao caos.

Uma das maiores falhas de “Alerta Vermelho” é a tentativa mal-sucedida de emular o estilo de outras produções populares, como a franquia 007 e o clássico “Onze Homens e um Segredo” (2001). Contudo, a mistura de referências não resulta em algo inovador ou interessante. Ao contrário, o filme se revela uma colagem preguiçosa de fórmulas já desgastadas, sem qualquer traço de originalidade. Em meio a essa avalanche de clichês, Ryan Reynolds repete o mesmo tipo de humor irônico que, apesar de ter funcionado em “Deadpool”(2016), aqui soa forçado e cansativo. Sua performance, que poderia injetar frescor na narrativa, acaba sendo apenas uma sequência de piadas internas, das quais somente ele parece se divertir.

Por outro lado, Dwayne Johnson, acostumado a interpretar papéis de heróis infalíveis, entrega uma atuação previsível, sem nuances ou surpresas. E Gal Gadot, embora reconhecida por sua presença marcante, não escapa do roteiro raso que limita seu papel a uma figura sedutora e manipuladora, sem o desenvolvimento necessário para causar impacto. Mesmo com todo o potencial visual e o carisma que ela carrega, sua personagem se desintegra em meio à falta de substância da trama.

Ao final, a questão que paira é: o que levou a Netflix a investir tanto em uma produção que entrega tão pouco? Uma possível explicação pode estar nas motivações comerciais da plataforma, que aposta em títulos de grande apelo popular, muitas vezes em detrimento da qualidade. Em uma cena específica do filme, há uma referência autorreferente que parece sintetizar a lógica por trás de “Alerta Vermelho”: uma indústria que, em determinadas fases, privilegia a quantidade em vez da qualidade, e o lucro em detrimento da arte.

A decisão da Netflix de seguir por esse caminho reflete uma tendência preocupante na indústria cinematográfica contemporânea, em que os blockbusters de fórmulas prontas se multiplicam, enquanto obras que desafiam o público e oferecem algo verdadeiramente novo acabam ficando à margem.


Filme: Alerta Vermelho
Direção: Rawson Marshall Thurber
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Comédia
Nota: 7/10