O belíssimo romance com 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, que poucas pessoas conhecem, na Netflix Divulgação / Netflix

O belíssimo romance com 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, que poucas pessoas conhecem, na Netflix

Quando Alex Lehman e Mark Duplass unem forças para criar um filme, o resultado é sempre surpreendente. Produções como “Blue Jay” e “Paddleton” destacam-se por seu equilíbrio entre comédia e drama, e pela forma como capturam a simplicidade da vida cotidiana, tornando-se espelhos da realidade para os espectadores. Nessas narrativas, as tramas parecem emergir de situações casuais, pequenos incidentes que poderiam facilmente acontecer em qualquer parte do mundo, seja na China ou no Brasil.

Assistir a um filme que atravessa fronteiras culturais é como encontrar uma joia rara. A linguagem dessas obras, marcada pela simplicidade e pela proximidade com o cotidiano, faz com que nos sintamos imediatamente em casa. “Blue Jay”, por exemplo, evoca a sensação reconfortante de momentos íntimos e familiares, como descansar no sofá ou compartilhar um café na casa de um parente querido. Apesar de não ser uma história de amor convencional, o filme é permeado por um romance do passado que, mesmo sem chance de ser reavivado, ainda ecoa como um fantasma nas vidas dos personagens.

Sob a direção cuidadosa de Lehman, o roteiro escrito por Duplass se desenvolve de forma sutil e envolvente. Duplass também assume o papel de Jim, o protagonista, um homem de meia-idade que enfrenta um momento difícil: após perder a mãe e ser demitido em uma disputa com seu tio no ramo da construção civil, Jim se encontra à deriva. Sua vida ganha um novo rumo quando ele se depara com sua ex-namorada Amanda (Sarah Paulson), que está de volta à cidade natal para passar algum tempo com a irmã grávida.

O reencontro acontece em um cenário trivial: um supermercado. O clima entre os dois é desconfortável, as palavras parecem faltar, e a tensão é evidente. Amanda, tentando controlar sua imagem, ajeita o cabelo, enquanto Jim, nervoso, passa a língua nos dentes, revelando a insegurança que ambos compartilham. Mesmo após tantos anos, há um vínculo silencioso, uma conexão que, apesar do tempo e da distância, persiste entre os dois.

Após esse primeiro encontro, os dois se reencontram no estacionamento e Jim convida Amanda para tomar um café. Ali, o diálogo flui um pouco melhor, com Jim falando sobre a briga familiar e o impacto em sua vida, enquanto Amanda compartilha sua experiência de se casar com Chris, um homem que já tinha filhos de um relacionamento anterior. Embora Jim pareça preso em uma vida que não deu certo, Amanda aparenta ter conquistado uma estabilidade invejável.

A partir daí, Amanda expressa curiosidade em visitar a casa da mãe de Jim, um local carregado de memórias do tempo em que eles namoravam no ensino médio. O espaço, que Jim está reformando após o falecimento de sua mãe, torna-se o cenário perfeito para os dois mergulharem no passado. Juntos, eles revivem momentos da juventude, escutando músicas e fitas gravadas na adolescência, compartilhando lembranças e, em um momento de fragilidade, se beijam. É um reencontro doloroso, onde sentimentos reprimidos vêm à tona, culminando em uma cena emocionalmente carregada, onde Jim revela segredos enterrados e desabafa sobre o que realmente aconteceu entre eles.

A estética de “Blue Jay” é outro ponto forte. Filmado inteiramente em preto e branco, o longa foi registrado com uma câmera Canon, de maneira bastante despretensiosa, em apenas sete dias. O diferencial, no entanto, está no fato de que todos os diálogos foram completamente improvisados pelos atores. O roteiro apenas delineava o esqueleto da história e as informações centrais sobre os personagens, deixando a interação natural entre Jim e Amanda ditar o tom das conversas. A química palpável entre Mark Duplass e Sarah Paulson transparece de forma autêntica, tornando cada cena incrivelmente verossímil.

Embora simples em sua concepção, “Blue Jay” é um filme carregado de emoção, nostalgia e honestidade. Essa delicadeza o transforma em uma das produções mais cativantes já realizadas pela Netflix, conquistando o coração dos espectadores com sua sensibilidade e abordagem minimalista.


Filme: Blue Jay
Direção: Alex Lehman
Ano: 2016
Gênero: Drama/Romance
Nota: 10/10